Como Efetivar Mudança e Crescimento Na Sua Vida
Download do Estudo Bíblico
O que está prestes a ler não é algo que você encontra nos típicos seminários de autoajuda seculares.
Não está relacionado ao que os gurus de crescimento pessoal tentam vender em incontáveis podcasts, livros ou seminários empolgantes depois que chegam à cidade com muito estardalhaço e barulho para ensinar como viver o presente, alcançar as estrelas e se transformar em sua melhor e mais poderosa versão de você mesmo.
O que você está prestes a ler não tem nada a ver com nenhuma dessas coisas. O que vem a seguir é a fórmula bíblica para o crescimento, e se contrapõe fortemente às noções do mundo para alcançá-lo.
Ao contrário dos bens idealistas que são comprados e vendidos hoje, a fórmula bíblica para o crescimento não é agradável nem gratificante ao ego. É trabalho pesado e está relacionado a derrotar o seu eu, a entender a necessidade crucial de arrependimento e dar as costas ao pecado.
Continuem lendo, meus amigos.
Ralph Drollinger
I. INTRODUÇÃO
A BÍBLIA TEM MUITO a dizer sobre como uma pessoa pode mudar; na verdade, as Escrituras revelam que os que estão em Cristo mudarão para melhor. Mas como exatamente isso acontece? Ou melhor, como o cristão (para usar o termo teológico apropriado) é santificado? Além de todas as teorias seculares referentes a alcançar o crescimento pessoal e mudar para melhor, há pelo menos quatro grandes pontos de vista históricos/teológicos proferidos em resposta a isto, mas como você verá, apenas um deles tem uma base bíblica sólida. Muito resumidamente, eles estão apresentados a seguir.
A. PERFEIÇÃO TOTAL
O primeiro ponto é conhecido como a perfeição cristã e deriva de Charles Wesley, o histórico líder inglês do movimento metodista. Nesta premissa há uma suposta segunda obra da graça, pós-salvação, que catapulta o cristão a um estado de “impecabilidade”. Outro nome para essa visão equivocada é “santificação plena”. O cristão pode cometer erros, mas, supostamente, ele já não está pecando. O crescimento espiritual é indicado por um aumento de boas obras. Simplificando, no mundo real o perfeccionismo de Wesley é problemático a partir do momento em que perguntamos ao cônjuge perfeito de alguém se ele é perfeito. A realidade prática sugere que a perfeição/santificação plena não é alcançada por nenhum cristão nesta vida, tampouco este ponto de vista encontra apoio na Palavra de Deus.
B. CRESCIMENTO PASSIVO
Um segundo ponto de vista da santificação amplamente defendido é o da escola de pensamento Keswick. Neste entendimento, o cristão cresce passivamente em sua relação com Cristo. É preciso apenas “se render” para crescer espiritualmente. Basta continuar a sorver da Bíblia e você irá amadurecer. “Entregue-se e deixe Deus agir” é um resumo adequado desse pensamento. Mas como veremos adiante, a graça de Deus autoriza a responsabilidade humana no processo de santificação e há uma expectativa bíblica para a promulgação da vontade humana na realização do crescimento espiritual.
C. PENITÊNCIA E REMORSO
Esta terceira posição é comumente praticada nos cultos. É conhecida como penitência. Considerando que as duas posições anteriores são praticadas incorretamente entre aqueles com uma soteriologia bíblica (que é uma compreensão adequada do que a Bíblia ensina sobre a fé salvadora verdadeira), a penitência é a ideia de impor algo como punição pelo pecado – é uma tentativa humana de equilibrar a balança. No mundo dos penitentes, nem a justificação (salvação) nem a santificação (crescimento espiritual) são imputadas por Deus por meio de sua capacitação (de acordo com as verdades de 1João 1.9 e muitas outras passagens). Pelo contrário, a salvação e a santificação são ganhas por esforço próprio ou mérito pessoal. Nessa forma de pensamento conclui-se que se alguém é salvo por mérito pessoal, também cresce por mérito pessoal. Alguém é santificado pela realização de boas obras, ações ou orações compensatórias a fim de propiciar (satisfazer) as ações erradas. A “culpa” da pessoa é o que a leva a mudar. O problema é que, semelhante às posições anteriores, não há nenhum fundamento ou base bíblica para tal crença ou prática.
D. SANTIFICAÇÃO PROGRESSIVA
A quarta posição é aquela que é fundamentada nas Escrituras: a santificação progressiva. A Bíblia repetidamente revela que um ciclo de arrependimento e renovação ao longo da vida avança em direção à semelhança com Cristo[i] – e este processo de crescimento só será completo quando essa pessoa for para casa para estar com o Senhor. Não há nenhuma perfeição desse lado do céu. O crescimento e a mudança são alcançados por meio da participação ativa e da disciplina do cristão a quem o Espírito Santo impele e energiza para a tarefa. Filipenses 2.12-13 e muitas outras passagens fundamentam este resumo sobre a santificação:
Assim, meus amados, como sempre vocês obedeceram, não apenas em minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor, pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele.
Observe esta passagem atentamente. Ponham em ação (a palavra grega katergazomai) não está se referindo à salvação pelas obras[ii] (cf. Romanos 3.21-24; Efésios 2.8,9; João 1.12; Romanos 10.9), mas descreve bem a responsabilidade que o cristão deve ter após ser salvo pela graça de Deus. E o fato de que Deus é quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar evidencia o agente da causa (Deus) que proporciona e autoriza a realização da santificação na vida do cristão depois de ser salvo. Outras passagens que fundamentam o ensino bíblico da santificação progressiva são Filipenses 3.13-14, Romanos 6.19, Atos 1.8, 1Coríntios 9.24-27; 1Coríntios 15.58, 2Coríntios 7.1, Gálatas 6.7-9, Efésios 4.1, Colossenses 3.1-17, Hebreus 6.10-11, Hebreus 12.1-2 e 2Pedro 1.5-11. Cada passagem ressalta a santificação progressiva, em que o Deus que está efetuando em vocês tanto o querer quanto o realizar é o único que impele o cristão e o motiva em sua responsabilidade de agir – assumindo responsabilidade pessoal – para atingir o crescimento espiritual, à medida que Ele dirige seu coração.
II. BASES BÍBLICAS RELACIONADAS À SANTIFICAÇÃO
As passagens da Bíblia anteriormente listadas são todas dignas de nota e reflexão antes de seguir adiante no desenvolvimento deste estudo (mas no total são muito longas para incluir neste estudo que eu espero limitar). Em resumo, a responsabilidade humana – agir em sua santificação – é essencial para mudar. Porém, mais especificamente como? O que se segue são as quatro principais bases bíblicas relacionadas à santificação.
A. TODAS AS MUDANÇAS DEVEM ESTAR ALINHADAS COM AS ESCRITURAS
Devemos considerar que a Bíblia é inspirada por Deus e a base de toda a verdade. “Ele está lá e não está quieto”, escreveu Francis Schaeffer. Em outras palavras, Deus se revelou ao homem não só na vinda de seu Filho Jesus Cristo, mas em sua Palavra Sagrada. As Escrituras, portanto, precisam ser a única fonte epistemológica (isto é, a única fundamentação do conhecimento) quanto à fé, prática e mudanças da pessoa. Observe o testemunho interno da Bíblia sobre si mesma no que diz respeito à mudança:
2Timóteo 3.16 Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça.
No grego, a construção dessa importante passagem é melhor traduzida assim: “Toda Escritura é dada por inspiração…”. Observe que um dos propósitos específicos de serem as Escrituras inspiradas por Deus é elas serem úteis para o ensino, a repreensão, a correção e a instrução; todas estas palavras denotam a mudança que é informada e guiada pelas verdades bíblicas. Adicione a isso as noções básicas do texto seguinte:
1Tessalonicenses 2.13 Também agradecemos a Deus sem cessar, pois, ao receberem de nossa parte a palavra de Deus, vocês a aceitaram não como palavra de homens, mas segundo verdadeiramente é, como palavra de Deus, que atua com eficácia em vocês, os que creem.
A Escritura diz a respeito de si mesma que pretende atuar com eficácia em vocês, isto é, transformar os que nela creem. Nesse sentido:
VISTO QUE A BÍBLIA É A PALAVRA DE DEUS PARA O HOMEM, ENTÃO CADA MUDANÇA QUE ALGUÉM DESEJA FAZER DEVE SE ALINHAR COM AS SUAS ORDENANÇAS.
Importante e direto ao ponto em nossa linha de pensamento, as Escrituras são a base para a realização das mudanças certas. 2Coríntios 10.5 ressoa e resume este primeiro ponto ao dizer que levamos cativo todo pensamento para torná-lo obediente a Cristo.
B. UM ACONSELHA O OUTRO COM AS ESCRITURAS PARA PRODUZIR MUDANÇA
A segunda base bíblica relacionada a mudança encontra-se em 1Tessalonicenses 5.14. Paulo afirma: Exortamos vocês, irmãos, a que advirtam [noutheteo] os ociosos, confortem os desanimados, auxiliem os fracos, sejam pacientes para com todos. A mudança ocorre quando alguém é confrontado pelas verdades de Deus. A mudança acontece, de acordo com 1Coríntios 1.18, porque a Palavra de Deus tem poder – poder para mudar indivíduos quando são confrontados por ela:
Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus.
Isaías 55.11 amplia essa mesma verdade surpreendente:
Assim também ocorre com a palavra que sai da minha boca: Ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei.
Entende-se que a Palavra de Deus é o canal que deve ser utilizado no aconselhamento ou mentoreamento (ou melhor, na exortação) de alguém para que mude. (Note que é daqui que o termo Aconselhamento Noutético vem. Este é um tipo de aconselhamento pastoral totalmente baseado na Bíblia e focado unicamente em Cristo. Ele renuncia à psicologia convencional e à psiquiatria como humanística porque muitas vezes elas se opõem ao princípios gerais bíblicos.) Hebreus 4.12 declara acerca da importância da Palavra para gerar mudança: Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes”… Muitas vezes, Deus usa outros cristãos, por meio da amizade, ou textos para aumentar a presença da Palavra em nossas vidas. Procure por isso e esteja aberto. Essa é a maneira como Deus pretende criar mudanças com base bíblica em sua vida.
C. A REAÇÃO À EXORTAÇÃO DAS ESCRITURAS PRECISA SER O ARREPENDIMENTO
Construindo a partir dos dois primeiros pontos relacionados à base bíblica para as mudanças, é como a pessoa reage ao ser exortada pela Palavra de Deus. Como você reage à exortação da Palavra de Deus é muito importante se quiser crescer. 2Timóteo 2.25 é crucial para esse entendimento:
…Deve corrigir com mansidão os que se lhe opõem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento, levando-os ao conhecimento da verdade.
A resposta bíblica adequada para a exortação da Palavra de Deus não é: “Eu não preciso mudar, já sou perfeito”, “Eu só vou me render e deixar Deus agir” ou “Eu vou equilibrar a balança do meu jeito”. Ao contrário destes pontos de vista aberrantes do processo de santificação mencionados anteriormente, esta passagem revela que o arrependimento (metanoia), que significa “mudança de mente, direção e propósito”, é fundamental para o processo de crescimento do cristão. Sobretudo a Escritura revela aqui e em outras passagens (cf. Atos 5.31; Atos 11.18; Romanos 2.4; 2Coríntios 7.9-10; Efésios 2.7; 2Timóteo 2.25) que o arrependimento é produzido pela graça soberana de Deus: na esperança de que Deus lhes conceda…
Em outras palavras, assim como a fé para crer em Cristo (veja Efésios 2.8-9):
O ARREPENDIMENTO TAMBÉM É UM PRESENTE DE DEUS. ALGUÉM QUE ESTÁ PRESO NO PECADO E DESEJA MUDAR DEVE, PORTANTO, SE HUMILHAR E CLAMAR: “DEUS, TENHA MISERICÓRDIA DE MIM E CONCEDA-ME O DOM DO ARREPENDIMENTO DO MEU PECADO
O arrependimento leva à mudança duradoura; é o elemento principal no processo de santificação! Jeremias 13.23 destaca isso, afirmando que qualquer mudança além do arrependimento dado por Deus é fútil:
“Será que o etíope pode mudar a sua pele? Ou o leopardo as suas pintas? Assim também vocês são incapazes de fazer o bem, vocês que estão acostumados a praticar o mal?”
O ponto de Jeremias é que os pecadores por si mesmos não podem mudar a essência de sua natureza. Portanto, a única maneira de alcançar a mudança duradoura é com a ajuda de Deus, e é por isso que clamar em quebrantamento e contrição a Ele é a única maneira que alguém pode implementar melhorias. Se você está seguindo minha linha de raciocínio, o desenvolvimento deste estudo tem muita relação com o entendimento do que exatamente seja o arrependimento bíblico – detalhadamente – uma vez que isso é crucial para alcançar o crescimento, ou a santificação, nesta vida.
D. A EXPRESSÃO PAULINA RECORRENTE PARA DESCREVER MUDANÇA
Nas cartas de Paulo às igrejas de Roma, Éfeso e Colossos muitas vezes ele fala do crescimento espiritual, ou seja, de santificação ou mudança em termos de “despir-se” e “revestir-se”. Ele está dizendo que para crescer espiritualmente o cristão deve despir-se do velho eu e revestir-se do novo eu. Efésios 4.22-24 expressa bem esta afirmação de Paulo:
Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade.
Fundamental para o nosso estudo, no que diz respeito a como o cristão efetua mudança em sua vida, é a ideia de despir-se do velho homem, ou deixar de lado. E sinônimo de despir-se ou deixar de lado é a palavra grega para arrependimento, que significa virar 180 graus, dar as costas, retirar algo de sua vida que não esteja agradando a Deus.
Segue-se então que o arrependimento, deixar de lado, é um elemento essencial, fundamental para o crescimento cristão. Tendo em conta os fundamentos relacionados à santificação, e que são cruciais, como podemos entender melhor o que é característico do verdadeiro arrependimento? O que se segue pode parecer um pouco complicado, mas entender de forma precisa e completa o que a Bíblia quer dizer com arrependimento é de extrema importância, uma vez que ele promove o crescimento espiritual. É o ponto de partida para isso. Assim, falhar neste aspecto é falhar em crescer espiritualmente.
QUAIS SÃO OS INDICADORES BÍBLICOS DO ARREPENDIMENTO? QUAL É A DIFERENÇA ENTRE O REMORSO E O VERDADEIRO ARREPENDIMENTO?
2Coríntios 7.9-11 talvez seja a melhor passagem no Novo Testamento que delineia cuidadosamente as características do arrependimento genuíno. Vamos agora voltar nossa atenção a como podemos entender melhor essa passagem.
III. O CONTEXTO DA INSTRUÇÃO NO ARREPENDIMENTO VERDADEIRO
A seguir, o texto de 2Coríntios 7.9-11, que delineia, detalha e define os vários componentes do arrependimento verdadeiro:
A tristeza segundo Deus produz um arrependimento que leva à salvação e não remorso, mas a tristeza segundo o mundo produz morte. Vejam o que esta tristeza segundo Deus produziu em vocês: que dedicação, que desculpas, que indignação, que temor, que saudade, que preocupação, que desejo de ver a justiça feita! Em tudo vocês se mostraram inocentes a esse respeito. Assim, se lhes escrevi, não foi por causa daquele que cometeu o erro nem daquele que foi prejudicado, mas para que diante de Deus vocês pudessem ver por si próprios como são dedicados a nós.
Neste trecho de 2Coríntios, Paulo está relembrando o relacionamento passado que teve com os cristãos de Corinto. Num breve resumo, durante a sua segunda viagem missionária ele passou 18 meses estabelecendo pessoalmente esta igreja. Algum tempo depois de a ter plantado, ele enviou seu emissário, Timóteo, a Corinto (1Coríntios 4.17; 16.10-11). Como resultado disso, Paulo descobriu que pretensos falsos apóstolos agora habitavam a assembleia dos cristãos e, em busca de poder, tinham punido Paulo tentando persuadir a congregação a não continuar seguindo os seus ensinamentos. Quando ficou sabendo dessa postura de rebeldia, Paulo partiu imediatamente (de Éfeso) para visitar Corinto. Para seu profundo desgosto, logo após sua chegada provou do fruto amargo dos falsos mestres, experimentando a deslealdade de muitos no rebanho – um rebanho que ele havia trabalhado tão duro para formar. Assim, como resposta a isso, ao retornar a Éfeso escreveu a carta comumente referida em nossos dias como a “carta severa” (ref. 2Coríntios 2.4), enviando-a depois a Corinto por meio de seu amado e leal discípulo, Tito.
Após o seu eventual reencontro, Tito deu um relatório surpreendente a Paulo sobre como a igreja de Corinto recebeu calorosamente a “carta severa”. Especificamente, muitos tinham se arrependido da rebelião contra o apóstolo. Paulo ficou muito feliz ao saber disso (de acordo com o texto de 2Coríntios). E é neste amplo contexto que as palavras de 2Coríntios capítulo 7 precisam ser entendidas: como resultado do motim e do arrependimento posterior da congregação, o Espírito Santo está nos oferecendo o significado do verdadeiro arrependimento na vida do cristão. Novamente, talvez não haja passagem melhor em toda a Bíblia do que esta encontrada em 2Coríntios 7.9-11. Ela revela percepções profundas que os seguidores de Cristo precisam ter em relação à constituição do verdadeiro arrependimento.
IV. OITO ASPECTOS DO ARREPENDIMENTO GENUÍNO
O arrependimento verdadeiro e genuíno, juntamente com a mudança, afirma Paulo, caracteriza-se por pelo menos oito atitudes e ações relacionadas que são motivadas pela presença santificadora de Deus na vida do cristão.[iii] “Paulo desenvolve [a respeito da tristeza segundo Deus] em uma série de atos ou disposições, todos eles inspirados por essa tristeza produzida por Deus.”[iv] Estas características são expressas nas palavras usadas por Paulo na passagem de 2Coríntios.
A. DEDICAÇÃO (Spoude)
Quando um cristão expressa a sua tristeza de maneira piedosa, haverá um evidente senso de seriedade e dedicação de sua parte para, ansiosa e assertivamente, buscar fazer o que é certo. Haverá, como um comentarista diz: “velocidade envolvida na realização de uma questão… uma disposição de fazer algo de boa vontade”.[v] Esta é a reação inicial do arrependimento genuíno que vem do alto:
A PRIMEIRA MARCA REGISTRADA DO ARREPENDIMENTO GENUÍNO É A TRISTEZA SEGUNDO DEUS; QUANDO PRESENTE, QUANDO DADA POR DEUS, PRODUZIRÁ UMA SENSAÇÃO DE ESFORÇO E PRESSA AUTOMOTIVADO DE DENTRO.
Há uma resolução que se torna realidade – uma motivação interna, uma seriedade quanto a “dar fruto que mostre o arrependimento!” (Mateus 3.8).
B. DESCULPAS (Apologia)
O New International Commentary on the New Testament [Novo Testamento Internacional e Comentado] (NICNT) declara em relação a esta característica específica das desculpas: “quando eles [os impenitentes cristãos de Corinto] pensaram na infâmia que o pecado trouxera sobre a igreja, ficaram ansiosos para limpar-se dessa cumplicidade e com raiva de si mesmos por terem permitido que uma coisa dessas acontecesse”. Aqui está a segunda marca do arrependimento verdadeiro, como um comentarista coloca: “Num desejo de limpar o nome do estigma que acompanha o pecado, o pecador arrependido restaura a confiança e a credibilidade dos outros tornando seu arrependimento genuíno conhecido”. Existe uma seriedade, um compromisso exteriormente reafirmado de desculpar-se pelo que o pecado causou. Por outro lado:
O FALSAMENTE ARREPENDIDO É CARACTERIZADO POR UMA ATITUDE QUE PERMANECE CENTRADA EM SI MESMO – MUITO MAIOR É A PREOCUPAÇÃO COM QUALQUER DANO À IMAGEM PESSOAL DO QUE A PRONTIDÃO EM REMEDIAR O ERRO.
Esta pessoa impenitente permanece preocupada consigo mesma e as ramificações que resultam de suas ações; sua reputação e o seu lugar entre colegas continuam sendo mais importantes. O verdadeiro arrependimento é sempre caracterizado por um desejodado por Deus para resolver imediatamente uma questão, procurando as pessoas a quem ofendeu, pedindo seu perdão para, assim, remediar o mal feito. Dito de outra forma, para o genuinamente arrependido a autopreservação de sua imagem exterior é menos importante do que a glorificação de Deus. Quando falta a unção de desculpas, a pessoa não está realmente arrependida.
C. INDIGNAÇÃO (Aganaktesis)
A palavra grega traduzida aqui como indignação, também usada em várias outras narrativas do Evangelho, traz a ideia de ficar irritado com suas próprias ações erradas. O pai da Igreja Primitiva, Crisóstomo, interpretou esta porção da passagem dizendo que o cristão autenticamente arrependido será caracterizado por uma indignação pessoal ou raiva “por causa do escândalo que tinha permitido continuar descontrolado na igreja e a consequente afronta ao santo nome de Deus”. Esta é outra clara indicação de arrependimento genuíno: o cristão possuirá um ódio interno, uma raiva por seu pecado e um descontentamento em relação à indignidade que isso trouxe para o nome do Senhor e sua igreja. Na realidade, esta autoindignação é uma bênção de Deus que pode ser comparada à pressão interna encontrada em um vulcão prestes a entrar em erupção. Haverá um autêntico ódio de si mesmo que borbulha dentro do coração do cristão – um ódio próprio que só pode encontrar liberação por meio da retificação total com as partes ofendidas.
D. TEMOR (Phobos)
Além de sua contrição interna, os cristãos voluntariosos de Corinto temiam a autoridade apostólica daquele a quem tinham sido desleais. Temiam que ele os castigasse por seus caminhos pecaminosos, na verdade, com vara (cf. 1Coríntios 4.21). Uma característica manifesta do verdadeiro arrependimento é que haverá um medo saudável não só de Deus, mas daqueles a quem o pecado tiver prejudicado.
Para resumir os primeiros quatro pontos:
O ARREPENDIDO GENUÍNO É AQUELE QUE SE EMPENHA COM DEDICAÇÃO PARA ACERTAR-SE COM A PARTE OFENDIDA. ESTA MOTIVAÇÃO É GERADA NA AUTOINDIGNAÇÃO. E TAMBÉM ESTÁ PRESENTE O TEMOR DO JUÍZO RETRIBUTIVO DE UM DEUS JUSTO E SANTO.
E. SAUDADE (Zelos)
Zelos é a palavra grega que dá origem à palavra ciúme. Ao pé da letra significa “um forte desejo”. No contexto desta passagem significa um anseio ou forte desejo de restaurar um relacionamento com alguém contra quem se pecou. Semelhante ao número 2 (a vindicação do eu que tem em mente o aspecto forense, exterior, no sentido de esclarecer a questão e a situação), a saudade mencionada aqui refere-se mais a um desejo veemente decorrente de uma aspiração interna do coração.[vi] Os cristãos de Corinto, em seu arrependimento genuíno, manifestaram um zelo interno para honrar Paulo e sua autoridade apostólica. Além disso, eles desejaram fortemente rejeitar os falsos mestres que haviam se introduzido na igreja. Mais profundamente, eles possuíam um anseio de seguir o exemplo de Paulo, alguém cujo coração era inteiramente devotado à causa de Cristo.
Todas essas atitudes expressam uma contrição motivada por Deus para fazer a coisa certa. Por quê? John Murray afirma: “A regeneração [verdadeira] é a renovação do coração e da mente, e o coração e a mente renovados devem agir de acordo com sua natureza”.[vii] O verdadeiro penitente sempre anseia e espera por relacionamentos certos com as pessoas. Em Romanos 12.18 Paulo traduz resumidamente as características acima mencionadas ao afirmar: Façam todo o possível para viver em paz com todos.
F. PREOCUPAÇÃO (Epipothesis)
Outra atitude consistente com o verdadeiro arrependimento é o zelo ou preocupação que os cristãos coríntios tiveram em assumir a defesa de Paulo e ir contra os falsos mestres que tinham tomado conta da igreja de Corinto. NICNT diz: [os cristãos de Corinto desejavam] “ver a restauração da sua antiga relação de confiança e afeição”. Sua resposta à “carta severa” de Paulo não foi de raiva, mas de seriedade, aceitando e percebendo que tinham sido desleais para com o apóstolo. Eles adotaram o ponto de vista de Paulo para com os falsos mestres; eles adotaram a causa de Paulo como sua própria causa. Deus permitiu que o arrependimento genuíno produzisse este tipo de zelo para provocar uma reviravolta nesta questão. Eles se preocuparam em reafirmar o seu amor e fidelidade para com ele. Ao contrário, pessoas impenitentes ou humanamente tristes de uma forma egoísta continuarão a ser desleais e evitarão adotar a opinião contrária sobre uma ofensa. Eles caracterizam-se por não admitir qualquer erro e continuar a culpar a outra parte.
G. DESEJO DE VER A JUSTIÇA FEITA (Ekdikesis)
Talvez a indicação mais forte do verdadeiro arrependimento seja a mais difícil de executar por outros meios que não os dados por Deus. No arrependimento proporcionado por Deus, o pecador não pensa em proteger-se. A preocupação primordial é que a justiça seja feita. Um comentarista aponta que “ele quer ver o pecado vingado não importa o que possa custar-lhe”. Se Paulo estava ou não se referindo à passagem central de nosso estudo, sobre os coríntios desejarem ver a justiça sendo feita quanto ao seu relacionamento interpessoal, ou os coríntios desejando ver a justiça sendo feita quanto a terem permitido que os falsos apóstolos liderassem a igreja, não importa. Em ambos os casos os agora humildes cristãos de Corinto tinham o desejo de buscar a reconciliação! O objetivo que todos almejavam era colocar a casa em ordem, sem importar a qual custo. Quando esta é a atitude de alguém, então o crescimento espiritual está em vista:
TAL ATITUDE INDICA UM SÉRIO DESEJO DE NUNCA FAZER AQUILO DE NOVO – E ISSO É CRESCIMENTO ESPIRITUAL – ALCANÇAR A SANTIFICAÇÃO PROGRESSIVA.
H. INOCENTES A ESSE RESPEITO (Hagnos)
A última palavra característica que Paulo escolhe para expressar o que, sob a inspiração do Espírito Santo, simboliza o verdadeiro arrependimento, é a inocência dos Coríntios em relação a seus pecados passados. A palavra grega aqui para inocente significa “limpo” ou “puro, santo”. Ele escolheu esta palavra porque sua conotação tem a ver com uma pureza ritual. Sem entrar em maiores detalhes ou ilustrações do uso anterior da palavra, a ideia aqui é que se um procedimento é seguido, então resulta em pureza. E é exatamente por isso que Paulo escolhe essa palavra como a última em sua lista de identificação das características do arrependimento genuíno. A escolha da palavra exibe uma ilustração bela e humana da teologia por trás de 1João 1.9, que afirma:
Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça.
Os cristãos de Corinto agora, na mente de Paulo, eram inocentes a esse respeito porque tinham confessado e se arrependido do seu pecado, como ficou mais do que evidente pelas sete novas atitudes e ações indicadas anteriormente nesta passagem esclarecedora. Também é importante notar que Paulo não repassa toda a descrição do pecado aqui, mas simplesmente se refere a ele [a esse respeito]. Por quê? A razão é porque eles satisfatoriamente abdicaram de seus pecados, como está evidenciado em suas ações de tristeza segundo Deus. Na mente de Paulo o passado foi “feito branco como a neve” (Isaías 1.18) porque eles tinham dado “frutos dignos do arrependimento” (Mateus 3.8). Em Filipenses nós aprendemos que Paulo deixou aquilo para trás(Filipenses 3.13). Uma vez que o passado foi corrigido agora era hora de seguir em frente – e não de reviver o que passou. Paulo está expressando uma atitude de alegria com a solução do problema. Esta passagem é então uma bela narrativa da realização do crescimento espiritual:
O INDICATIVO DO VERDADEIRO CRESCIMENTO ESPIRITUAL É QUANDO AJUSTES E REAJUSTES SÃO REALIZADOS.
V. RESUMO
As oito características do arrependimento genuíno são básicas para o crescimento espiritual – afastar-se correta e completamente do passado e avançar para o que é certo no futuro. Deixar de lado e revestir-se, fazer ajustes e reajustes.
Um tipo mundano de tristeza egocêntrica pelo pecado manifestará poucas, senão nenhuma, das atitudes características do arrependimento verdadeiro e genuíno. Além disso, tal resposta ao pecado – apegar-se a ele – gera estagnação ao crescimento espiritual. Lembre-se da palavra grega para arrependimento, que significa “uma mudança de mente”, ao passo que lupe, a palavra grega para tristeza mundana, significa “dor do corpo.” Arrependimento é a chave para uma vida de mudança e crescimento. Alguém só amadurece na vida cristã por meio do arrependimento genuíno. Então, à medida que Deus coloca no seu coração as coisas que precisam ser mudadas, preste muita atenção! Afaste-se delas com sinceridade e abandone-as para sempre. E enquanto você as deixa de lado e reveste-se do novo eu, siga em frente na direção da santificação em Cristo. Amém! cm
Ralph Drollinger
[i] 2Coríntios 5.17 afirma: “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!”
[ii] Uma vez que a salvação é explicitamente revelada nas Escrituras como um presente para aqueles que pela fé se arrependem e recebem a Jesus Cristo como Senhor.
[iii] Como afirmado, o arrependimento é realmente uma dádiva de Deus, dado junto com a capacidade de crer Cristo, no dia da salvação. Além disso, este presente do arrependimento está em curso no seu funcionamento – não só na salvação, mas na santificação (ao longo da vida do cristão) como o apóstolo deixa implícito nesta passagem sob estudo.
[iv] The Expositors Bible, 2Coríntios.
[v] New International Dictionary of New Testament Theology [Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento] (NIDONTT).
[vi] Sempre que Paulo fala de um bom desejo no NT (como ele faz 13 vezes) usa essa palavra grega que é traduzida como saudade. (Por outro lado, quando ele fala de um desejo errado, lascivo, ele usa epithymia).
[vii] (Redemption Accomplished and Applied [Redenção Realizada e Aplicada], p. 106).