Compreendendo Os Pressupostos Epistemológicos
Download do Estudo BíblicoEpistemologia é “a divisão da filosofia que investiga a natureza e a origem do conhecimento” (The American Heritage Dictionary). Eu gosto do que o Merriam and Webster acrescenta na elaboração de uma definição funcional: “O estudo do método e fundamentos do conhecimento, especialmente com referência a seus limites e validade.” É extremamente importante dedicar algum tempo para considerar as limitações ou as não-limitações, a validade ou a invalidade da fonte de conhecimento de uma pessoa e o que ela julga fidedigno.
O estudo da epistemologia explora em que se baseia o indivíduo e o que forma o seu pensamento sobre o certo e o errado. Seus pressupostos são válidos? À medida que envelhecemos, subconscientemente dependemos de nossos hábitos epistemológicos enraizados; presumimos a sua validade. Mas será que eles estão certos?
Sábios são os indivíduos capazes de discernir não só seus próprios pressupostos epistemológicos, mas também os das outras pessoas ao analisar algo. Sábio é o cidadão capaz de discernir os pressupostos epistemológicos de um candidato antes de dar o seu voto. Este estudo bíblico trata justamente disso: Como aumentar sua percepção e habilidades em relação a “pontos de partida.” Continuem a ler, meus amigos.
Ralph Drollinger
I. INTRODUÇÃO
A epistemologia está intimamente relacionada à ontologia. Enquanto a epistemologia faz perguntas sobre as origens e a validade do conhecimento, a ontologia faz perguntas sobre a natureza e a origem do ser. Ambas as disciplinas filosóficas tentam abordar e estudar estas questões básicas relacionadas à vida na terra: “Por que eu existo e em que devo basear as minhas crenças?”
O cristão responde a essas perguntas com o pressuposto de que a Bíblia é a autoridade final; a Bíblia é a fonte de suas ideias em relação a questões epistemológicas e ontológicas. Por outro lado, o secularista busca outras fontes. Nossos pressupostos – ou seja, o que utilizamos para formular respostas em relação a essas duas disciplinas – são tão múltiplos quanto variantes. Por exemplo, muitas pessoas costumam se basear nos valores que aprenderam em sua formação como referência para suas ideias e decisões de hoje; consciente ou inconscientemente se baseiam na educação que receberam como a autoridade final nas decisões que tomam em suas vidas. Há pessoas que se baseiam em experiências e condições atuais, ou seja, a situação presente; outras ainda são guiadas pela ideologia de professores e mestres ou de livros que leram.
Portanto, sábio é o indivíduo capaz de identificar não só os pressupostos das outras pessoas (pense no pressuposto como uma suposição feita com antecedência), mas os seus próprios pressupostos na vida. O que forma o seu pensamento? O que determina suas ações?
PENSAR NAS COISAS COM CURIOSIDADE E DESEJO INVESTIGATIVO E COMPREENDER SUA BASE EPISTEMOLÓGICA É SER TANTO PERSPICAZ QUANTO SÁBIO
O que forma essa crença ou ação? A sabedoria para fazer estas perguntas e respondê-las com precisão é muito importante, especialmente onde os rumos de uma nação são muitas vezes definidos. Viver e pensar com discernimento epistemológico é o oposto exato do que o Livro de Provérbios caracteriza e nomeia como simplório ou tolo. Discipline-se para ser um pensador profundo e perspicaz.
II. CONTRASTANDO PRESSUPOSTOS VÁLIDOS E INVÁLIDOS
O crescimento cristão é conscientemente deixar de lado e seguir em frente. Ele vai deixando para trás os pressupostos epistemológicos inválidos e limitados, e em seu lugar reprograma o pensamento mundano com uma epistemologia bíblica. Observe Efésios 4:22-25a:
“Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito da vossa mente, e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade. Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo.”
Este processo de crescimento interno é sinônimo do que Paulo diz aos cristãos mundanos em Corinto. Em 2Coríntios 10:5 ele afirma:
“Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo.”
Esta passagem está no mesmo contexto das declarações anteriores de Paulo sobre a falácia do raciocínio humano que se afasta da revelação divina (cf. 1Coríntios 1:18-25; Jó 5:13; Salmos 94:11). A palavra conselhos traz em si a ideia de formas mundanas de pensar, suas filosofias e suas falsas religiões. Todos esses bombardeios são tentativas do maligno de esconder do que busca a verdade o testemunho de sua consciência e a vocação balizadora do Evangelho de Cristo. Em resumo, é conduta normativa e plena expectativa de Deus que seus representantes aprimorem unicamente uma epistemologia bíblica, renunciando a todos os outros pressupostos de verdade. Todas as formas de pensamento devem ser levadas cativas à obediência de Cristo.
A. O PAPEL DA FÉ EM PRESSUPOSTOS
É pela fé que todos mantêm autoritativos seus pontos iniciais de raciocínio – ou pressuposições sobre o que é certo e errado. Conforme o que foi mencionado anteriormente, supõe-se pela fé a exatidão e a autoridade de sua epistemologia parental, experiencial, professoral, autoral ou revelacional. Esta é uma distinção importante a fazer de início, porque nas ilustrações que se seguem não-crentes muitas vezes argumentarão (numa tentativa de levar vantagem) que o ponto de partida dos cristãos, baseado na fé, não se aplica a eles.
B. VERDADE A PARTIR DO INTERIOR
Agora vamos dar um passo adiante. Dois pontos de partida epistemológicos adicionais que podem ser um pouco mais difíceis de entender são chamados de racionalismo e empirismo. O racionalismo começa com raciocínio – do interior da mente humana para o exterior, pelo uso da dedução e da lógica. O empirismo apela aos sentidos do homem para reunir conhecimentos e informações que, por sua vez, são processados na mente humana e são utilizados como base para determinar o que é certo e errado. O que eles têm em comum é a suposição (pela fé, eu poderia acrescentar) que a mente humana – por si só – pode servir para discernir a verdade da falsidade. Esta é uma enorme pressuposição. Em contradição, o cristão acredita que:
A ORIGEM DA VERDADE ESTÁ FORA DA MENTE HUMANA. ENCONTRA-SE NA REVELAÇÃO DE DEUS AO HOMEM: A BÍBLIA
A pressuposição do cristão é que a mente humana é inclinada para o pecado e dada à irracionalidade e parcialidade devido à queda do homem em Gênesis 3. Visto que a queda afetou as habilidades do homem de pensar sempre de forma verdadeira (teologicamente isto é chamado de o efeito noético do pecado), a mente humana não é uma fonte confiável de certeza. Apegar-se a uma epistemologia que presume o certo e o errado, que a verdade moral pode ser determinada pelo uso de percepções sensoriais, é o mesmo que trabalhar em um laboratório contaminado. A Bíblia diz que não podemos confiar em nós mesmos para encontrar as respostas certas. Em outras palavras, a verdade absoluta, o que é certo e errado, não podem derivar de forma consistente e precisa de uma epistemologia humanista secular. Na verdade, quanto mais o assunto em questão estiver relacionado à verdade moral, mais tendenciosa a mente humana caída se torna.
C. A VERDADE A PARTIR DO EXTERIOR
O testemunho da Bíblia é este: A verdade deve ser derivada de uma fonte epistemológica externa, não contaminada pelo raciocínio humano caído e defeituoso. A natureza pecaminosa do homem caído é a razão pela qual Deus teve que se revelar ao homem, para além do homem. Tanto Jesus Cristo como as Escrituras são testemunhas disso. Deus revelou seu plano a nós não só por meio de seu Filho encarnado, mas da fonte escrita externa e objetiva, incontaminada pelo pecado, chamada Bíblia. Desta forma, Ele simplesmente comunica a mensagem de redenção e transmite objetivamente a verdade ao longo do tempo.
Segue-se então que quanto mais o homem estuda a revelação do Deus, tanto mais possui a certeza da verdade, do pensamento correto e de uma compreensão ontológica apropriada do propósito da vida.
Rejeitada pelo não regenerado, e adotada pelo cristão, a Bíblia é a única epistemologia confiável e certa no universo; todas as outras fontes são contaminadas em algum grau pelo viés do pecado endêmico. Além disso, divergir desta avaliação é o mesmo que exaltar sua própria opinião acima dos ensinamentos fidedignos da Bíblia. Claro, “a autoridade do eu” é a tendência popular, e não é preciso olhar muito longe para ver essa prática na cultura.
UM EXEMPLO ATUAL DE ARROGÂNCIA EPISTEMOLÓGICA DOS SECULARISTAS É A REAÇÃO ARDENTE À DECLARAÇÃO DE DAN CATHY (CHICK-FIL-A) SOBRE A DEFINIÇÃO DE CASAMENTO FEITA POR DEUS
Os secularistas afirmam em voz alta que a mais recente causa deles é moralmente superior à autoridade bíblica, dizendo, em essência: “Nossa compreensão de casamento é melhor do que a de Deus.” O problema é: Os incrédulos cujos raciocínios são contrários à revelação divina enfrentam a tarefa assustadora de provar que suas crenças têm uma base mais forte e mais confiável do que a Palavra de Deus. Qual autoridade ou base, qual a pressuposição que fundamenta a sua opinião? Não é subjetivo?
D. A VERDADE PERSONIFICADA
Vimos que a verdade vem de uma fonte externa e não contaminada. Observe o que Jesus acrescenta a essa compreensão em João 14:6:
“Eu sou o caminho, a verdade e a vida…”
As Escrituras não só proclamam que a certeza da verdade absoluta e fidedigna está fora do homem caído, mas que o próprio Jesus, o segundo membro da Trindade, é a personificação da verdade. Em outras palavras, uma vez que um dos atributos de Deus é a verdade, é preciso aceitar a Deus para saber a verdade. Portanto, rejeitar a Deus é rejeitar a verdade.
E. RACIOCÍNIO CIRCULAR
No primeiro ponto deste esboço, mencionei que os pontos de partida para todas e quaisquer bases de autoridade do homem são sustentados pela fé. Isso significa que todo argumento epistemológico é de natureza circular. O fato de que o cristão usa a Bíblia para sustentar sua premissa – que é a Palavra de Deus – não é diferente do evolucionista utilizando evidências fósseis em uma tentativa de apoiar sua visão de mundo. Considerando que a teoria é informada pela fonte, a teoria também informa a fonte. Por que então a epistemologia do cristão deve ser considerada superior? É pela razão exposta a seguir.
Em contraste direto com a intervenção teísta do cristianismo está a invenção humanística. Considerando que a primeira é importada do exterior, a última é fabricada no interior. Esta grande diferença deve ser enfatizada e sublinhada pelo defensor teísta (o apologista cristão). Em outras palavras, por meio de uma argumentação convincente, os incrédulos precisam perceber o absurdo de sua epistemologia – a sua crença é informada pela estimativa interna, enquanto a nossa é uma crença informada pela revelação externa. A epistemologia cristã é informada pela mente infalível de Deus, enquanto o humanismo é informado pela mente falível do homem. Por este motivo, o ponto de partida do cristão pela fé, seu pressuposto, é superior. Em essência, não tem nada a ver comigo, tem tudo a ver com Deus.
III. ILUSTRANDO PRESSUPOSTOS VÁLIDOS E INVÁLIDOS
A fim de criar uma melhor compreensão funcional do que foi dito anteriormente, acompanhe a ilustração narrativa apresentada a seguir.
A. DONAHUE E MOHLER
Anos atrás, o dr. Albert Mohler debateu com Phil Donahue no programa de televisão deste último. Dr. Mohler é reitor de um destacado seminário evangélico. Donahue o questionou se seria justo um nazista condenado ao inferno que assassinou um judeu ainda ter a possibilidade de obter a salvação cristã. Em vez de permitir que o raciocínio do apresentador o colocasse na defensiva, na minha humilde opinião, em primeiro lugar Mohler deveria ter desafiado Donahue sobre sua base epistemológica para sua suposição declarada de que assassinar era errado. Que base de autoridade Donahue possuía para presumir que o assassinato estava errado na elaboração de sua pergunta?
A questão é que Donahue pegou emprestado os pressupostos bíblicos de Mohler na formulação de sua acusação de injustiça teísta (como se Deus não fosse justo – arrogantemente inferindo que ele tinha uma mente mais justa do que o Deus da Bíblia). Se eu estivesse na posição de Mohler (e sem toda a pressão da TV ao vivo), teria afirmado: “É óbvio, a partir de sua declaração, que você acredita que assassinar é errado. Essa é certamente a minha posição, mas qual é a sua base de autoridade para concluir isso?” Donahue claramente estava pegando emprestado os princípios da cartilha de Mohler sem dar o devido crédito, enquanto simultaneamente ignorava a veracidade do autor da Palavra. Donahue não podia ter as duas coisas. Tal hipocrisia deveria ter sido trazida à tona.
Devida e amorosamente interrogado, Donahue teria de afirmar que acreditava que o assassinato é errado com base em seu próprio pensamento. (O humanista tipicamente tenta refutar esta conclusão com “todos acham que o assassinato é errado, portanto, é errado”, que pode ser resumido como um argumento por convenção). O problema em postular um argumento por convenção é que nem todos acreditam que o assassinato seja errado, como provam Saddam Hussein e naturalmente Adolph Hitler; ambos encabeçam a lista de pessoas que pensavam de modo semelhante. Então, qual é a base de autoridade de Donahue, senão sua própria opinião para achar que está certo?
B. RESUMINDO DONAHUE E MOHLER
Além da Bíblia, Donahue não possuía nenhuma autoridade moral que não fosse sua opinião pessoal para travar seu ataque contra Mohler. Mohler poderia ter levado a melhor se tivesse afirmado que a moralidade de Donahue era uma questão de sua própria interpretação, para começar. A menos que alguém pegue emprestado o pressuposto do ensino da Palavra, ou seja, neste caso, “não matarás” só é possível dizer que Hitler estava errado por assassinar os judeus com base em uma opinião pessoal. Por outro lado, o cristão pode proclamar, de forma confiável e coerente, que o assassinato é errado com base em uma fonte terceira, objetiva e exterior a si mesmo aplicável a todos, e não apenas a si mesmo. Para permanecer coerente o não-crente deve dizer: “Eu acredito que o assassinato é errado, mas pode não ser errado para você. Então eu não posso dizer-lhe para não matar alguém.”
Em resumo desta ilustração, desenvolver e utilizar o discernimento epistemológico permitirá a você travar suas batalhas de uma posição mais elevada, onde as armas não estão carregadas e os opositores não estão bem equipados ou fortificados para se defender.
NÃO É A SUA PALAVRA CONTRA A MINHA: É O SEU PENSAMENTO CONTRA O DE DEUS
O cristão é descrito como o embaixador de Deus (2Coríntios 5:20). Ao representar a Bíblia, os cristãos falam com a autoridade de Deus. O apologista Greg Bahnsen resume o gênio epistemológico de Van Til (um líder apologista reformado), quando afirma: “[Incrédulos] enfrentem o desafio de justificar [sua fonte de conhecimento] com boas razões” (Van Til’s Apologetics Phillipsburg, Nova Jersey, P & R Publishing, 1998). O incrédulo é sua própria e única fonte para a conclusão do que é certo e errado, e suas opiniões são, portanto, desprovidas de qualquer autoridade além de si mesmo, e não são aplicáveis a ninguém além de si mesmo. Na verdade, muitas epistemologias “são informadas por uma hostilidade ética para com Deus” (Ibid., p. 157). Quando estiver considerando um projeto de lei na subcomissão ou votação, leve em consideração:
ESTE PROJETO DE LEI OU O PONTO DE VISTA DO CANDIDATO ESTÁ ENRAIZADO NAS VERDADES E PRINCÍPIOS DA BÍBLIA – OU É BASEADO NO QUE ALGUÉM CONSIDERA SUBJETIVAMENTE SER CERTO OU ERRADO?
Qual é a epistemologia subjacente relacionada à matéria a ser votada? Essa é a pergunta! Se desenvolver uma percepção aguçada para isso, você será mais sábio nos dias e anos pela frente.
IV. SUMÁRIO
Ao adotar uma epistemologia baseada na revelação exterior, sempre fico ansioso para chegar ao ponto na discussão com um descrente onde posso fazer a pergunta filosófica que encerra o debate: “Então em que devo acreditar – na sua opinião ou na Bíblia?” Esta é a essência da autoridade epistemológica. E em seguida, é sempre bom acrescentar com amor e carinho o comentário: “Algo a se pensar, não é?”
O cristão presta um grande serviço ao incrédulo ao ajudá-lo a compreender claramente que sua base de autoridade é exclusivamente o seu eu. É este exercício sério que pode levar uma pessoa ao arrependimento de seu orgulho e arrogância e em direção à fé em Cristo. Paulo tinha esse mesmo pensamento em mente quando escreveu aos cristãos de Corinto, em 1Coríntios 2:14:
“Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura…”
Por quê? João afirma em João 3:19:
“Os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más.”
João diz no próximo versículo que a razão dos incrédulos não virem para a luz é porque não querem que seus pecados sejam expostos. Sondar a epistemologia de alguém pode ajudá-lo a começar a ver as tolices reveladas por sua falta de qualquer base objetiva para aquilo em que acredita. Quanto a isso, Romanos 1:22 afirma:
“Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.”
A humildade é o primeiro passo necessário (concedido por Deus) na conversão a Cristo, e a argumentação apologética eficaz pode muitas vezes servir para alcançar esses fins. Antes que alguma legislação ou candidato ganhe seu voto, será que enfrentarão o desafio da necessidade de justificar a origem do seu conhecimento? cm
Ralph Drollinger