A Bíblia Informa e Determina seus Valores?
Download do Estudo BíblicoA forma como você vê a inspiração da Bíblia – se foi escrita por Deus ou se é uma invenção do homem – é crucial em relação ao que é autoridade em sua vida.
Tempos atrás eu estava falando com um amigo no Capitólio, a quem todos conhecemos. Ele disse: “Ralph, você quase convenceu o parlamentar ‘X’ que a Escritura é inspirada por Deus. Mas ele percebeu que se concordasse com você, então a Bíblia se tornaria o árbitro final para suas decisões de vida e política… Você o deixou pensativo.” Ele prosseguiu e então me encorajou a continuar trabalhando essas questões com aquele parlamentar.
O que se segue é uma defesa para a inspiração do Novo Testamento, e como ilustrado acima, este estudo tem implicações enormes: sua posição a respeito da inspiração irá determinar se você é o juiz das Escritura ou se a Escritura é seu juiz. Complexo, meu amigo! A inspiração é uma questão crítica.
Que Deus o abençoe e aumente sua confiança na Bíblia como resultado do estudo desta semana.
Continue lendo, meu amigo.
Ralph Drollinger
I. INTRODUÇÃO
Há várias perguntas que irão ajudar o servidor público, ou qualquer outro indivíduo, a abordar a questão da inspiração de Deus às Escrituras.
Em primeiro lugar, qual é o testemunho das Escrituras em si? Os autores da Bíblia sabiam que estavam escrevendo o texto sagrado – diziam estar escrevendo as palavras de Deus? Eles mesmos fizeram esta alegação ou esta é uma ideia mais tarde atribuída a eles por outros, desejando que fosse assim?
Em segundo lugar, qual é o testemunho da igreja primitiva sobre os livros que agora compõem a Bíblia? As Escrituras eram consideradas como a Palavra de Deus pelos mais próximos aos autores humanos da Bíblia?
Em terceiro lugar, como exatamente nossa Bíblia tomou a forma que tem hoje? Sim, porque ela não caiu pronta de repente do céu.
Novamente, e semelhante ao meu prólogo, as respostas a estas perguntas são extremamente importantes para as nossas crenças. Se as Escrituras vêm de Deus, quer dizer que são inspiradas por Ele para o homem, logo, a Bíblia é a autoridade final e suprema para a formação de princípios, valores e política. Francis Schaeffer apropriadamente considera a inspiração como sendo a divisora de águas da fé cristã.1 Assim, este estudo tem o intuito de aumentar sua compreensão, paixão e convicção sobre a inspiração e a autoridade de toda a Bíblia.
DEFENDER OU REJEITAR A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS IMPACTA GRANDEMENTE A FORMAÇÃO DE VALORES
Quando Paulo disse aos presbíteros de Éfeso a quem ele havia ministrado por mais de três anos, “pois não deixei de proclamar-lhes toda a vontade de Deus” (Atos 20.27)2 estava expressando, com efeito, sua convicção de que o que estava dizendo e escrevendo era de fato inspirado por Deus – e, portanto, seria irresponsável para alguém que ensina a Bíblia, ou um cristão que professa segui-la, ser displicente a respeito da Palavra. A declaração de Paulo pressupõe que Deus inspirou o que ele estava dizendo. Segue-se que tal afirmação seria ridícula se Paulo não acreditasse que seu discurso e escritos foram inspirados por Deus e infundidos com a autoridade dele.
Os membros do Congresso enfrentam múltiplas demandas a cada hora de seu dia a dia. A participação regular em nossos estudos bíblicos requer esforço persistente e determinado de sua parte para blindar e proteger sua agenda (de seus secretários!) a fim de poder se alimentar regularmente do Livro de Deus. Por que você faria isso se não acredita que a Bíblia é o Livro de Deus? Por outro lado, por que você não disciplina a si mesmo e prioriza o estudo da Bíblia se de fato é o Livro dele? Tudo isso para dizer que suas conclusões relativas à inspiração afetam até mesmo seu calendário semanal!3
O que se segue são três razões pelas quais podemos confiar na inspiração plenária4 da Bíblia – e de forma mais específica para este estudo, dos 27 livros do Novo Testamento (NT).
II. O TESTEMUNHO DOS AUTORES
Se hoje todo o Novo Testamento deve ser tomado como o oráculo de Deus inerrante, infalível, inspirado de forma plena e fidedigna, então é lógico que os escritores saberiam disso, e o afirmariam. Observe os seguintes escritores do NT neste aspecto:
A. APÓSTOLO PAULO
“Se alguém pensa que é profeta ou espiritual, reconheça que o que lhes estou escrevendo é mandamento do Senhor” (1Coríntios 14.37).
“Delas também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito, interpretando verdades espirituais para os que são espirituais” (1Coríntios 2.13).
“Ao contrário de muitos, não negociamos a palavra de Deus visando lucro; antes, em Cristo falamos diante de Deus com sinceridade, como homens enviados por Deus” (2Coríntios 2.17).
Semelhante a Atos 20.27, citado na introdução, vemos nestas passagens que o apóstolo Paulo entendeu claramente que estava falando e escrevendo em nome de Deus.
B. APÓSTOLO JOÃO
“Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos o que em breve há de acontecer. Ele enviou o seu anjo para torná-la conhecida ao seu servo João, que dá testemunho de tudo o que viu, isto é, a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo” (Apocalipse 1.2-2; cf. Ap 1.10-11; 21.5; 22.6; 22.18-19).
Esta passagem serve para indicar que o apóstolo João (aqui referindo-se a si mesmo como Seu servo João) percebeu, como testemunhou aqui, que está escrevendo o que Jesus Cristo lhe mandou revelar.
C. APÓSTOLO PEDRO
“… das coisas que agora lhes foram anunciadas por meio daqueles que lhes pregaram o evangelho pelo Espírito Santo enviado do céu; coisas que até os anjos anseiam observar” (1Pedro 1.12).
Aqui o apóstolo Pedro testifica que ele e outros apóstolos que pregavam o evangelho o fizeram por meio do Espírito Santo, anunciando a mensagem enviada do céu.
D. JESUS
“Há um juiz para quem me rejeita e não aceita as minhas palavras; a própria palavra que proferi o condenará no último dia”(João 12.48).
Cristo fala do julgamento de Deus Pai para aquele que rejeitar o que Jesus diz. O cético, muitas vezes, raciocinará que, uma vez que o NT escrito não existia quando esses homens escreveram os testemunhos acima mencionados a respeito da inspiração das Escrituras, suas afirmações devem ter sido em referência ao Antigo Testamento (AT), que era então existente na forma canônica. Como refutação, note que os apóstolos fazem referências cruzadas uns dos outros. Por exemplo, Pedro testifica que Paulo estava escrevendo as Escrituras, e Paulo testifica que Pedro estava escrevendo as Escrituras, etc. Isso está evidente nas passagens indicadas a seguir.
E. PEDRO TESTIFICA SOBRE PAULO
“Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa salvação, como também o nosso amado irmão Paulo lhes escreveu, com a sabedoria que Deus lhe deu. Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes assuntos. Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles” (2Pedro 3.15-16).
Pedro testifica diretamente que Paulo escreveu a Escritura. Como os céticos conseguem ignorar a força dessa passagem quando debatem a inspiração? Uma vez que esta é uma passagem tão forte e direta do apóstolo Pedro atestando a escrita do apóstolo Paulo como Escrituras (graphe), muitos teólogos liberais do século 20 tentaram afirmar que foi escrita muito mais tarde, e não por Pedro. No entanto, 2Pedro foi amplamente divulgado e aceito pelos líderes da igreja no segundo século. Eles estavam obviamente muito mais próximos da criação e da publicação do livro e o consideraram inspirado tanto quanto os demais 26 livros do NT; não questionaram a sua autenticidade nem a data de autoria, como os líderes de épocas mais recentes.
F. PAULO TESTIFICA SOBRE PEDRO
“Também agradecemos a Deus sem cessar, pois, ao receberem de nossa parte a palavra de Deus, vocês a aceitaram não como palavra de homens, mas segundo verdadeiramente é, como palavra de Deus, que atua com eficácia em vocês, os que creem”(1Tessalonissences 2.13).
É possível ser mais direto? Paulo está se referindo não só a si mesmo, mas aos outros pregadores apostólicos, como registrado no nascimento da igreja, cujo relato cronológico está localizado no livro de Atos do NT. De nossa parte refere-se aos outros pregadores, como o apóstolo Pedro. O que foi recebido? A palavra de Deus.
G. JUDAS TESTIFICA SOBRE OS APÓSTOLOS
“Todavia, amados, lembrem-se do que foi predito pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo.
Eles diziam a vocês: ‘Nos últimos tempos haverá zombadores que seguirão os seus próprios desejos ímpios’” (Judas 1.17-18).
Um apóstolo é alguém que não só viu, mas falou em nome do segundo membro da Trindade, Jesus Cristo. Como tal, Judas está dizendo que os apóstolos falaram por Deus.
H. TODA A ESCRITURA
Além de se referirem aos seus próprios escritos e aos dos outros como inspirados por Deus, tanto Paulo como Pedro atestam toda a inspiração das Escrituras — toda a Escritura — em outros lugares em suas diversas cartas. A seguir, apresento vários outros exemplos.
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça”(2Timóteo 3.16).
Esta é outra passagem muito clara e direta que mais uma vez marca um ponto decisivo para a equipe “inspiração!”
Naturalmente os teólogos liberais tentam interpretar esta passagem importante de outra maneira. Veja como eles torcem este texto: esta passagem significa toda a Escritura inspirada por Deus é… deixando assim aberta a possibilidade de que algumas escrituras não são inspiradas e, portanto, cabe ao homem descobrir o que é e o que não é inspirado (algo que eles gostam de fazer. Prova disso é o Jesus Seminar em que os “eruditos” liberais votaram sobre o que era “inspirado” e o que não era). Não caia em suas fraudulentas distorções da Bíblia. Não é preciso uma longa lição de gramática em grego, visto que fica claro a partir de passagens similarmente construídas no grego do NT (Romanos 7.12, 2Coríntios 10.10, 1Timóteo 1.15; 2.2; 4.4 e Hebreus 4.17), que tal tradução é intencionalmente enganosa. Toda a Escritura é inspirada é a tradução adequada. Pedro acrescenta:
“Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo” (2Pedro 1.20-21).
Esta passagem afirma claramente que a Bíblia não era e não é o produto da vontade humana. Em vez disso, os escritores foram movidos ou impelidos por Deus.
Em síntese deste segundo ponto do estudo, o testemunho dos autores inspirados da Escritura indica veementemente que sabiam que o que estavam escrevendo vinha de Deus. Na tentativa de transmitir a ideia de que a inspiração foi posteriormente impingida em seus escritos antigos, não se pode dizer que esses homens não sabiam que, quando escreveram, Deus estava inspirando seus escritos. Essas passagens servem para indicar que sabiam disso quando escreveram. Nem faz sentido dizer que esses homens estavam mentindo por causa de tudo o mais que circunda e provém de seus escritos: é óbvio que eram homens de grande integridade.
III. O TESTEMUNHO DA IGREJA DO SEGUNDO SÉCULO
O último livro do Novo Testamento a ser escrito foi Apocalipse, que é também chamado de Livro da Revelação. O apóstolo João o escreveu em torno de 94-96 d.C. Assim, a era da igreja do primeiro século se encerrou e a escrita do NT foi terminada (cf. Apocalipse 22.18-19). Muitos dos livros do NT eram conhecidos como encíclicos, o que significa que foram destinados a mais de um público para ler. Logo, todos os 27 livros se tornariam encíclicos, à medida que os vários pergaminhos10 que continham os livros do NT eram repassados e muitas vezes reproduzidos, conforme circulavam de igreja em igreja durante este período. Sobretudo, eles foram imediatamente considerados como fidedignos porque, além das palavras de Jesus, os apóstolos sempre foram vistos como representantes de Cristo, tendo sido nomeados por Ele (cf. Atos 1.8). Nunca houve nenhuma razão para a igreja do segundo século duvidar que os apóstolos eram porta-vozes de Cristo. De fato, após a ascensão e o dia de Pentecostes, eles receberam até mesmo dons e sinais miraculosos para legitimar ainda mais sua nomeação e autoridade. Dadas as suas próprias afirmações escritas (como mencionado anteriormente), eles foram vistos e aceitos pelos primeiros líderes da igreja como fidedignos. Nunca houve qualquer dúvida.
Além disso, os escritos dos apóstolos continham ordens para que fossem lidos nos cultos da igreja. Considerando que a igreja primitiva modelava seus cultos seguindo o padrão das sinagogas judaicas (onde as escrituras inspiradas do AT recebiam preeminência e autoridade por sua leitura regular nos cultos de adoração), a exigência interna feita de terem seus escritos apostólicos lidos junto com as leituras do AT comunicava uma forte mensagem tanto para o público da época quanto para o leitor da Bíblia de hoje: os escritos apostólicos são igualmente Escrituras. Observe tais comandos apostólicos à igreja primitiva nas passagens a seguir.
A. COLOSSENSES 4.16
Depois que esta carta for lida entre vocês, façam que também seja lida na igreja dos laodicenses e que vocês igualmente leiam a carta de Laodiceia [Éfeso].
B. 1TESSALONICENSES 5.27
Responsabilizo-os diante do Senhor para que esta carta seja lida a todos os irmãos.
C. APOCALIPSE 1.3
Feliz aquele que lê as palavras desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o que nela está escrito, porque o tempo está próximo.
A segunda seleção, 1Tessalonicenses 5.27, especialmente sublinha a ideia da ordem apostólica. A palavra grega para responsabilizo (enorkizo) significa “colocar sob um juramento.” É uma expressão muito forte: Paulo colocou a igreja em Tessalônica sob um juramento a Deus para que lessem sua carta aos irmãos e no culto principal. Novamente: O fato de que todos esses versículos dizem explicitamente que os escritos apostólicos devem lidos nos cultos da igreja, é semelhante a colocar esses escritos lado a lado com as Escrituras do AT.
Em meados do século II, “a autoridade dos apóstolos era aceita como igual à do AT. Os escritos apostólicos eram lidos nos cultos da igreja junto com os do AT. No final do período, estabeleceu-se o princípio de um cânon definido e escrito do NT.”11
No final do segundo século, a classificação dos escritos do NT como Escrituras é evidente nos escritos apologéticos de Irineu. Irineu foi discípulo de Policarpo, que foi discípulo do apóstolo João. Irineu escreveu para defender a fé contra os ensinamentos heréticos em seu compêndio de livros intitulados “Contra as Heresias.” Nesta obra, ele cita 21 dos 27 livros do NT como autoridade ao refutar erros doutrinais. E suas citações do NT muito superam ao uso que faz do AT. E até então, os 27 livros do NT ainda não haviam sido formalmente “costurados,” no que se refere à canonização das Escrituras.
O que é especialmente importante sobre o que foi mencionado anteriormente é a aceitação e adesão dos líderes e cristãos do segundo século à autoridade escritural dos escritores apostólicos.
A IGREJA DO SÉCULO II TINHA UM PONTO DE OBSERVAÇÃO MUITO MAIS PRÓXIMO DO QUE NÓS: OLHANDO PARA TRÁS ELES PODIAM VER “O PÃO NO FORNO” ATRAVÉS DE SEUS BINÓCULOS
… por assim dizer. Como os teólogos liberais podem criticar os escritos apostólicos de seu ponto de observação 2000 anos mais tarde? Como podem pensar que têm uma perspectiva melhor do que os líderes da igreja do segundo e do terceiro século que pessoalmente testemunharam e supervisionaram a germinação das encíclicas na canonização formal das Escrituras? Comparativamente falando, as tentativas de hoje de sobrepor ideias pessoais aos pronunciamentos claros da autoridade apostólica, bem como aos atestados dos líderes da igreja do primeiro e do segundo século, não são apenas arrogantes, mas ridículas.
IV. O TESTEMUNHO DO PROCESSO DE CANONIZAÇÃO
A canonização das Escrituras ocorreu somente a partir do início do século IV. De 200 a 300 d.C. a igreja conhecia os conteúdos básicos do NT e continuava a vê-los como inspirados e fidedignos (embora os limites precisos não tivessem sido definidos ainda). Antes de discutir a formalização do cânon em si, é essencial salientar o que a palavra significa.
A palavra “cânon” é transliterada da mesma palavra em grego. Sua etimologia deriva de sua compreensão mais literal: “um bastão ou uma cana,” chegando ao significado de “vara” (uma vez que bastão, cana ou vara poderiam ser usados como instrumento antigo de medição). Ao longo do tempo, assumiu o significado de “barra” ou vara. E por estar relacionada à ideia de medida, a palavra ganhou o significado metafórico de “padrão.” Usado na literatura, significava: “uma lista de obras atribuídas corretamente a um autor.”12 Hoje em dia significa os livros aceitos como inspirados que formam as Sagradas Escrituras.
Em um sentido apropriado, o cânone realmente passou a existir quando a escrita das textos originais ocorreu — ainda que tenha levado muitos anos para a igreja reconhecer isso. Em outras palavras, a autoridade está nos livros em si – não na instituição que mais tarde os “canonizou.”13
SOBRETUDO, O CÂNON CONSISTE NOS LIVROS INSPIRADOS POR DEUS QUANDO FORAM ESCRITOS PELOS AGENTES DE DEUS
Muito mais poderia ser dito sobre os acontecimentos históricos que autenticaram e levaram ao reconhecimento oficial da canonização do Novo Testamento. É uma história fascinante – para outro momento. Hoje, por uma questão de brevidade, vou direto ao assunto.
Diocleciano foi imperador romano durante o início do século IV. Ele era um homem cruel que ordenou que todos os livros religiosos fossem queimados em sua tentativa de fazer com que todos o adorassem como deus. Os cristãos arriscaram a vida escondendo uma cópia das Escrituras. Uma pessoa que viveu esta provação foi Eusébio de Cesareia (270-340 d.C.). Ele era um respeitado líder da igreja e historiador que dedicou grande quantidade de tempo e atenção ao cânone. O futuro das Escrituras estava em jogo. Em seu livro, A História da Igreja, fala muito sobre o tema cânon.
Em 313 Constantino conquistou o império romano e declarou o cristianismo como uma religião legal. Logo depois disso, encomendou de Eusébio 50 cópias do NT. Eusébio o fez e isso levou à real junção dos livros do NT. Até este tempo o NT existia em vários códices14 e os critérios para determinar que livros estariam realmente no cânone não tinham sido solidificados. Eusébio pode receber crédito por essa realização dentre os líderes da igreja.
Atanásio então completou o trabalho de Eusébio. Nisso, a extensão do NT é codificada e ratificada pelo Concílio da Igreja de Laodiceia, em 365 d.C. O pronunciamento deste encontro dizia: “Os Salmos compostos por homens específicos não devem ser lidos na igreja, nem livros não admitidos no cânone, apenas os [livros] canônicos do Novo e do Antigo Testamentos.”
Após a reunião de Laodiceia, em dois concílios subsequentes dos líderes da igreja o cânone foi ratificado em todo o mundo. Estes concílios foram: o Concílio de Hipona, em 393 d.C., e o Concílio de Cartago, em 397 d.C. Foi neste último concílio que Agostinho disse: “[É decretado que] nada, exceto as escrituras canônicas, podem ser lidas na igreja sob o nome de escritura divina… Do Novo Testamento os quatro Evangelhos, Atos, treze epístolas de Paulo, a epístola do mesmo aos Hebreus, Pedro (2), João (3), Tiago, Judas e Apocalipse…” Westcott afirma:
“O ACORDO GERAL SOBRE ESSA DECISÃO FOI EVIDENCIADO NA PRÁTICA DE TODAS AS IGREJAS A PARTIR DAQUELE MOMENTO”15
O NT estava agora canonizado. Os escritos latentemente fidedignos haviam sido coletados, reunidos e formalmente reconhecidos pelo que sempre haviam sido desde a sua origem. A igreja tinha assentido unanimemente – inspirados por Deus.
V. RESUMO
Ainda há muitos que defendem o liberalismo teológico. Mas devo acrescentar que é uma raça moribunda, porque o que resulta de sua teologia é uma pequena motivação para salvar ou evangelizar os perdidos: poucos convertidos, suas igrejas estão envelhecendo e se fundindo.
Se a Bíblia é ou não inspirada por Deus é um divisor de águas. Posicionar-se a favor ou contra a inspiração irá solidificar ou diminuir a Bíblia como fidedigna em termos da formação pessoal de alguém em princípios e valores e, para um servidor público, nas decisões políticas. Se você aderir à inspiração, então segue-se que a Palavra se torna autoridade em sua vida. Se rejeitar a inspiração, concluirá que você, ou algum pastor liberal, é a autoridade final.
Ao pensar sobre isso:
REJEITAR A INSPIRAÇÃO SIGNIFICA QUE VOCÊ OU ALGUMA OUTRA PESSOA OCUPA O LUGAR DE AUTORIDADE, COLOCANDO-SE ACIMA DE DEUS
Os argumentos intelectuais contra a inspiração podem camuflar um coração rebelde a Deus. Se você argumenta contra os autores e aqueles que conheciam os autores, está discutindo contra a história e o atestado interno da própria Escritura. Submeta-se às Escrituras, submeta-se ao Cristo revelado das Escrituras e siga os preceitos dele e de seu Livro. Permita que Jesus e a Palavra informem e determinem seus pensamentos, seus valores, suas decisões e ações. Ele ama você e os caminhos dele são sempre melhores para você e para a nação. Deus não criou a humanidade e a deixou sem um manual para guiá-la pessoalmente – e nas decisões que os parlamentares devem tomar no governo para a melhoria da nação. Todas as soluções certas para os nossos problemas pessoais e nacionais estão ali mesmo no Livro inspirado.
Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes, declara o Salmo 19.7. A Palavra de Deus lhe dará a habilidade de viver a vida (sabedoria). E Deus promete que irá recompensá-lo se você obedecer-lhe. O versículo 11 do mesmo Salmo declara: Há grande recompensa em obedecer-lhes. A inspiração é uma questão crucial, divisora de águas. As Escrituras são a Palavra de Deus. Submeta-se hoje à autoridade delas em sua vida!
1 Schaeffer, Francis: He is There and He is not Silent [O Deus que Intervém] (Wheaton: Tyndale House Publishers, 1972).
2 Note também que Paulo e outros autores do NT condenaram fortemente aqueles que de alguma forma adulteraram ou depreciaram as Escrituras (cf. Gl 1.6-9; 2Co 2.17; 2Tm 4.3-4; Ap 22.18-19).
3 O livro clássico de Harold Lindsell, The Battle For The Bible [A Batalha pela Bíblia], foi escrito após o Seminário Teológico de Fuller ter abandonado a inerrância. Ele ajudou a fundar o Seminário Teológico Gordon Conwell tendo em alta conta a inerrância. Em seu livro, ele defende que o abandono da inerrância leva à atrofia missiológica. Tudo isso para dizer que ser a favor (ou não) da inspiração determina uma infinidade de coisas na vida cristã: missões, política nacional e até mesmo a disciplina de frequência ao estudo bíblico.
4 A inspiração plenária é um termo histórico da reforma que codifica a crença de que Deus é o autor supremo da Bíblia em sua totalidade. Ou seja, que o trabalho supervisor de Deus na inspiração se estende por toda e cada parte da Bíblia… e que é fidedigna. (Cf. Pocket Dictionary of Theological Terms [Dicionário de Bolso de Termos Teológicos]).
5 Em nenhum lugar nas Escrituras, incluindo Mateus 16.18-19, pode ser apoiada a ideia de ex cathedra (latim, “da cadeira”), ou seja, que haveria supostamente uma linhagem de liderança decorrente do apóstolo Pedro a um líder da igreja atual, que ao falar ex cathedra estaria falando por Deus.
6 Às vezes, isso incluiu o uso de um amanuense, que é um secretário a quem o texto foi ditado.
7 John MacArthur: The MacArthur New Testament Commentary: 2Timothy (Chicago: Moody Bible Institute, 1995), p. 143.
8 Considerações ou manuscritos escritos pelo autor.
9 Dr. Robert Thomas: The Canon of the New Testament, artigo extraído, p. 2.
10 Isto era (e ainda é) uma planta de junco com que se confeccionava um tipo primitivo de papel. Mais tarde, velino ou pergaminho, uma pele animal processada que era muito mais cara do que o papiro, foi usada na cópia de livros do NT.
11 Dr. Robert Thomas: The Canon of the New Testament, notas extraídas, p. 13.
12 Merrill Tenney, The New Testament, A Survey, p. 417.
13 Em teologia isso é denominado “uma coleção de escritos fidedignos” em vez de “uma coleção fidedigna de escritos”. Considerando que o primeiro salienta a autoridade latente dos documentos, o segundo salienta a autoridade da agência que os reuniu – ou seja, a igreja e não os livros.
14 Um códice era uma forma primitiva, antiga, de um livro moderno, contrastado com um pergaminho, que era um rolo de papiro manuscrito.
15 Westcott, The Bible p. 189.