As Implicações Culturais E Pessoais De Gálatas
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Gálatas é um dos dois livros do Novo Testamento que fomentou a Reforma e tornou-se a base do que hoje é denominado a ética de trabalho protestante. Esses dois fenômenos moldaram profundamente o desenvolvimento da nação e da cultura americana.
Então, é importante que cada servidor público tenha uma boa compreensão da conexão entre a teologia de Gálatas e seu evidente significado cultural e pessoal. Segue-se que tal conhecimento tem impacto nas decisões políticas.
Este pequeno livro não contém apenas enormes implicações para a formação cultural, mas também apresenta verdades cruciais em relação ao crescimento pessoal em Cristo – verdades que são insuperáveis em termos de importância. Vou destacar três delas na visão geral desta maravilhosa epístola.
Ralph Drollinger
I. NOME
O apóstolo Paulo plantou muitas igrejas em suas várias viagens missionárias por toda a Ásia Menor (atual Turquia). Uma delas foi na região chamada Galácia (cf. 1.2; 1Co 16.1). Esta epístola foi dirigida a mais de uma igreja e por isso é chamada de epístola encíclica, por ter passado de uma igreja a outra. E aparentemente ainda está sendo passada hoje para você e para mim, contendo algumas lições muito importantes.
II. AUTORIA E DATA
A epístola de Gálatas é atribuída a Paulo (1.1; 5.2) e, por causa do seu estilo (como revelado em diversos trechos), sua autoria não é questionada. O grande apóstolo nasceu não muito longe da Galácia, numa região conhecida como Cilícia, onde foi criado em estrita ortodoxia judaica como fariseu (cf. At 23.6), se esforçando para agradar seus pares (Gl 1.10). Sua vida entretanto mudou drasticamente quando foi confrontado pelo Cristo ressurreto na estrada para Damasco (cf. At 9). Paulo foi então convertido e recebeu por meio de Ananias, o mensageiro enviado em nome de Jesus, instruções para servir como missionário (9.15). De especial interesse para o servidor público é o fato de que sua vocação especificamente incluía alcançar para Cristo os líderes políticos (cf. 1Tm 2.1-4) entre judeus e gentios.
O cristianismo era formado por apenas um pequeno grupo de judeus convertidos no início do seu ministério – e, ao fim dele, a fé cristã se tornou um fenômeno em todo o império romano. Não é nenhum exagero dizer:
PAULO FOI O MAIOR MISSIONÁRIO EM TODA A HISTÓRIA
Sua vida, em certo sentido, é um forte testemunho da perseverança e da capacitação simultânea do Espírito Santo; não há nenhum limite à influência que um homem pode ter quando anda com o Senhor. Como Lincoln, Wilberforce ou qualquer outro grande líder, você também, servindo como um humilde e perseverante servidor público, pode alterar o rumo de sua cidade, estado ou nação.
Paulo escreveu esta carta para a igreja da Galácia em torno do ano 49 d.C., logo após a reunião do Concílio de Jerusalém, conforme está registrado em Atos 15.
III. CONTEXTO
A região da Galácia era uma província romana desde 189 a.C., e Paulo tinha trabalhado duro em sua primeira viagem missionária para fundar muitas igrejas na região, incluindo Antioquia, Derbe, Icônio e Listra. O objetivo principal da epístola é colocar fim aos ensinamentos falsos dos judaizantes. Como tal, é polêmica, expressando uma forte refutação.
Desde a fundação destas igrejas os judaizantes haviam se infiltrado e obtido controle delas, corrompendo a doutrina da salvação – especificamente, a justificação apenas pela fé – ao pregar “fé mais obras”. A essência do argumento de Paulo para refutar o ensino deles é registrada em Gálatas 2.21: “Se a justiça vem pela lei, Cristo morreu inutilmente.”
IV. ÊNFASE E TEMAS
A. SALVAÇÃO SOMENTE PELA FÉ
Avisados anteriormente para desistir de pregar esta heresia pelo Concílio de Jerusalém em Atos 15.23-29, os judaizantes, no entanto, persistiram. Eles ensinavam que os gentios (e supostamente, as pessoas hoje), a fim de ser salvos, devem primeiro se tornar prosélitos judeus e se submeter à lei mosaica cerimonial e judicial do Antigo Testamento, além de ter fé em Cristo. Paulo resume claramente o propósito adequado da lei mosaica em Gálatas 3.24:
“Assim, a lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé.”
A lei mosaica, como Deus sempre pretendeu, era para ser um instrumento pelo qual um indivíduo consciente poderia medir a si mesmo, rapidamente determinando que não tinha justiça suficiente (cf. Dt 27.26; Mt 5.20; Tg 2.10) e que, portanto, necessitava da justiça imputada de Cristo.
A LEI MOSAICA PODE SER COMPARADA A UM APARELHO DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA: NÃO PRETENDE CURAR, PORQUE SEU OBJETIVO É DIAGNOSTICAR
Nesta analogia, Jesus é o farmacêutico que livremente fornece e cumpre a prescrição a um paciente doente que está faminto por cura espiritual.
Se não fosse pela forte polêmica, ou refutação de erro, como afirmado nesta epístola, o cristianismo poderia ter se tornado uma ramificação do judaísmo. Para que não se julgue hoje esta ideia como exagero, Gálatas 1.6-9 informa ao leitor que a igreja inteira já estava enganada. Nesta linha de pensamento, Paulo acrescenta em Gálatas 4.11: “Temo que os meus esforços por vocês tenham sido inúteis.” Curiosamente, esta é a única epístola de Paulo que não começa com, nem de alguma forma inclui, uma nota introdutória positiva aos seus leitores. Isso ressalta o tom grave relativo às consequências terríveis para a igreja cristã primitiva como um todo se nenhuma correção imediata fosse feita.
B. SANTIFICAÇÃO SOMENTE PELA FÉ
Além de corrigir a doutrina da salvação, Paulo leva adiante o conceito de “somente pela fé” e o incorpora na doutrina da santificação. Ou seja, a santificação na vida do cristão também é alcançada somente pela fé. Em Gálatas 5.25, ele declara resumidamente: “Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.” Este também é um aspecto importante do livro. Se o Espírito Santo realmente habita na vida do cristão (depois de ser salvo, cf. Rm 8.9), então é lógico que vai agir no interior dele, orientando-o e convencendo-o do pecado a fim de levá-lo ao amadurecimento, segundo seu querer e no seu tempo. E Gálatas 3.3 acrescenta: “Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem agora se aperfeiçoar pelo esforço próprio?”
Referente à salvação e à santificação somente pela fé, o Antigo Testamento declara que Abraão “creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça” (Gn 15.6; Gl 3.6). O sistema de Deus quanto à salvação e à santificação sempre foi pela fé versus obras. Paulo defende aqui que, mesmo no Antigo Testamento, crer sempre foi o meio de salvação e de santificação, versus guardar a lei. E na epístola aos Gálatas acrescenta ainda outro argumento muito convincente: é preciso ter em mente que a dispensação da lei só teve início 430 anos após a aliança/promessa abraâmica (cf. Gl 3.17). Consequentemente, se guardar a lei mosaica fosse o meio de salvação planejado por Deus, então o que seria de todos aqueles que viveram antes dela?
V. ENTENDENDO PASSAGENS DESAFIADORAS
O conteúdo de Gálatas deve ser dominado pelo servidor público que leva a sério seu cargo para influenciar as outras pessoas e a nação para Cristo. Por quê? Porque você irá descobrir que alguns de seus colegas pensam como os gálatas, antes de Paulo escrever esta epístola atemporal, que contém uma correção de rumo para os que são levados a acreditar erroneamente que só a fé não é a fórmula de Deus para a salvação. Além de corrigir ideias heréticas extremamente aberrantes sobre a salvação e a santificação, há pelo menos três passagens nesta carta que são usadas para propagar pontos de vista teológicos confusos. Você precisa ter uma compreensão clara delas; vou tentar apresentar uma explicação contextualizada adequada de cada uma dessas passagens.
A. A REGENERAÇÃO SE DÁ POR MEIO DO BATISMO DE ÁGUA (3.27)?
“… pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram.”
O fato de que a imersão não salva é mostrado claramente em 1Pedro 3.20-21; esta passagem de forma alguma contradiz aquela. Ao contrário, 1Pedro nos orienta a entender o que Paulo está comunicando aqui nesta passagem de Gálatas: o uso de uma metáfora. Esta passagem não é uma referência ao batismo de água física. Paulo faz uso da expressão batizados (baptizo), que significa “colocar, mergulhar” em Cristo, para comunicar que o cristão foi colocado muito próximo, no sentido de estar unido com Cristo. Em um sentido similar este é o mesmo recurso ou dispositivo literário usado por Paulo em Gálatas 2.20, onde ele afirma ter sido “crucificado com Cristo.” Entendemos que ele está falando metaforicamente aqui; Paulo não estava literalmente morto quando escreveu essas palavras. Se a salvação é apenas pela fé (uma verdade presente em toda a Escritura), então a regeneração batismal (se esta fosse a forma de se interpretar esta passagem) iria negar a ideia de salvação somente pela fé frequentemente repetida em outros lugares; e tal forma de salvação seria equivalente a obras (contr. Ef 2.8-9). Paulo não está ensinando a regeneração batismal aqui nem em nenhum outro lugar.
Uma segunda passagem logo após esta pode também ser facilmente mal interpretada, mas serve para trazer à tona a abordagem interpretativa acima mencionada: Paulo diz: vocês “de Cristo se revestiram.” O que ele quer dizer com isso? Como devemos entender a segunda parte deste verso (Gl 3.27)? É um pensamento paralelo, uma bela faceta metafórica adicional associada à mesma verdade preciosa: o cristão, ao depositar sua fé em Cristo, é revestido de Cristo. Mais uma vez, esta é uma expressão que o autor não pretendia que fosse interpretada com literalismo rígido (nosso Senhor não espera que usemos determinado tipo de roupa íntima).
A LINGUAGEM PITORESCA DESTA PASSAGEM PAULINA DESTINA-SE A ILUSTRAR VIVIDAMENTE A UNIDADE PRÁTICA E POSICIONAL DO CRISTÃO COM SEU SENHOR
B. OS PAPÉIS DO HOMEM E DA MULHER SÃO IGUAIS (3.28)?
“Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus.”
O movimento feminista evangélico fundamentou grande parte de sua teologia igualitária nesta única passagem. Mas interpretado corretamente, Paulo está afirmando que todos os cristãos são um em Cristo, sejam eles judeus ou gregos, escravos ou livres, homens ou mulheres. Todos se nivelam aos pés da cruz.
A Bíblia está repleta do fato de que há imparcialidade em Cristo. Mas simultaneamente, a Palavra de Deus clara, repetida e distintamente ensina que, por desígnio de Deus, há papéis diferentes na vida. Essa exclusividade nas funções inclui as autoridades reguladoras versus o cidadão comum (Rm 13.1-8), presbíteros versus congregação (Hb 13.17), patrões versus empregados (1Pd 2.18), pais versus filhos (Ef 6.1) e maridos versus esposas (1Pd 3.1). Um quadro inteiro de passagens aqui e em outros lugares, por toda a Escritura, atesta as diferenciações de papéis. Embora as posições possam variar, Gálatas 3.28 serve para deixar muito claro que uma não é mais significativa ou importante do que a outra aos olhos de Deus – nem deve ser esse o caso na visão que temos das pessoas. Paulo ainda desenvolve essa ideia sobre imparcialidade em 1Coríntios 12.13-26 e em Tiago 2.1-9. Assim, em harmonia com toda a Escritura, Gálatas 3.28 se encaixa com o princípio daquelas passagens: igualdade de valor simultaneamente com diversidade em função.
C. EXISTE SEGURANÇA ETERNA (5.4)?
“Vocês, que procuram ser justificados pela lei, separaram-se de Cristo; caíram da graça.”
Será que esta passagem de Gálatas indica que é possível perder a salvação? Não. No conjunto desta epístola, o leitor assiste de camarote ao confronto cataclísmico entre salvação somente pela fé versus salvação por fé e obras (isto é, guardar a lei mosaica, além de receber a graça de Deus). Num contexto que se repete, Paulo está dizendo nesta passagem específica que aqueles que procuram ser justificados pela lei estão se separando da salvação somente pela fé. A palavra grega para “separar-se” (katargeo) significa “ser afastado.” Por conseguinte: aqueles que se alinham com os judaizantes se afastam de Deus ao rejeitar o que Paulo havia pregado antes de forma tão clara e veemente (cf. Gl 1.6-9). Considerando o contexto de toda a Escritura, esta passagem não adultera nem contradiz uma infinidade de outras que ensinam a segurança eterna do cristão (cf. Rm 8.31-39). A partir desta interpretação, segue-se que, afastar-se do que Paulo havia ensinado anteriormente significa cair da graça de uma salvação somente pela fé.
A SALVAÇÃO SOMENTE PELA FÉ POR MEIO DA GRAÇA DE DEUS É UM PILAR CRUCIAL DO CRISTIANISMO BÍBLICO E DA EPÍSTOLA AOS GÁLATAS
Esta passagem particular de forma alguma nega todas as outras passagens claras e fortes do Novo Testamento sobre a segurança eterna do cristão.
Em síntese desta parte do estudo em Gálatas, estas passagens problemáticas são facilmente compreendidas para harmonizar com o restante das Escrituras.
VI. APLICAÇÃO PARA AS AUTORIDADES REGULADORAS
A. À PESSOA
O que apresentamos a seguir são três pontos extraídos de Gálatas que devem moldar para sempre a vida do servidor público – tornando este livro um dos mais importantes para se dominar.
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- Possua o compromisso zeloso de Paulo
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Em Gálatas 1.10, o grande apóstolo declara:
“Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou estou tentando agradar a homens? Se eu ainda estivesse procurando agradar a homens, não seria servo de Cristo.”
Antes de sua conversão, Paulo assassinou cristãos em sua tentativa de agradar os mais fervorosos fariseus. Depois de render-se a Cristo, sua única ambição passou a ser agradá-lo. E você? Se Jesus pagou tudo, não é natural que devamos tudo a Ele?
Em Gálatas 2.20 Paulo ressalta a realidade teológica que gera tal devoção zelosa de um homem ao seu Senhor. Ele escreve:
“Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.”
Paulo encarava sua velha natureza como morta. Ele mesmo, com suas ambições egoístas, não era mais uma prioridade; na verdade, ele as considerava mortas e agora Cristo vivia nele. Tal devoção exclusiva e determinada ao Senhor só pode se originar da adoção de uma compreensão bíblica como a descrita em Gálatas. Medite nesta passagem. Que ídolos em seu coração eclipsam este foco singular que precisamos ter para servir Aquele a quem devemos a própria vida?
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- Evitar um espírito legalista
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Legalistas são pessoas arrogantes que possuem atitudes farisaicas de autojustificação. Isso sempre decorre de uma teologia da salvação baseada em obras. Se quiser estar no clube “A”, você vai aderir aos padrões extrabíblicos do legalista. Mas é duro ficar perto de legalistas. Eles evidenciam pouca alegria, comunicam atitudes de superioridade espiritual e muitas vezes são condescendentes. Mas, se você estiver salvo pela graça de Deus, é natural que estenda graça e misericórdia aos outros. Lembre-se de Gálatas 5.1:
“Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão.”
Cristo veio para libertar os cristãos de um sistema de salvação e santificação baseado em obras (de acordo com a cultura dos fariseus e judaizantes). Cristo veio para libertar você de um padrão baseado no desempenho – em que nunca sabe se é bom o bastante. Paulo confronta tais atitudes condescendentes em Gálatas 6.3:
“Se alguém se considera alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo.”
Não seja um servidor público do tipo “santarrão.” Seja caracterizado como alguém que concede aos outros o que eles talvez não mereçam. Não acredite, pense ou aja como se você fosse espiritual ou moralmente superior.
EVITE PENSAR NOS OUTROS COMO ALPINISTAS DEFICIENTES EM OXIGÊNIO DO ALTO DO SEU POLEIRO
Seja gracioso e misericordioso para com as outras pessoas da mesma forma que Deus tem sido abundantemente paciente, gracioso e misericordioso com você.
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- Prossiga andando no Espírito
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Alguém pode perguntar, na salvação pela graça: “Como então eu amadureço em Cristo?” Veja como: se alguém permanecer sensível à habitação do Espírito Santo de Deus, confessando seu pecado sempre que for culpado (1Jo 1.9), e continuar preso à sua Palavra (Cl 3.16), então estará vivendo pelo Espírito. Veja Gálatas 5.16:
“Por isso digo: vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne.”
Se você viver pelo espírito, crescerá — não satisfará os desejos de sua natureza pecaminosa.
Observe as duas passagens seguintes relacionadas a esta mesma questão. Em 1Coríntios 4.3-4 Paulo afirma: “… de fato, nem eu julgo (anakrino) a mim mesmo. (…) o Senhor é quem me julga (anakrino).” Mas mais tarde ele diz em 1Coríntios 11.28 que quando um cristão chega à mesa da comunhão, precisa examinar-se (dokimazo). Essas passagens parecem ser contraditórias na nossa tradução, mas não são. Sobretudo, vemos na primeira passagem que há uma necessidade de andar no Espírito (versusapagá-lo, cf. 1Ts 5.19), de modo a permitir que Ele me examine/julgue (anakrino). Ela indica que, como resultado, não temos que ficar nos examinando o tempo todo. Quando andamos no Espírito podemos depender dele para tocar nosso coração — para julgar-nos — em relação a áreas específicas em que precisamos crescer.
Mas quanto à segunda passagem listada, ainda que o Espírito Santo de Deus esteja nos impelindo, tocando e estimulando nosso coração a crescer em certas áreas (e Ele usa a Palavra bem como pessoas para conseguir isso), no entanto precisamos continuamente examinar (dokimazo), “analisar e aprovar” nossas ações, avaliando: “Estou respondendo pessoalmente ao que o Espírito Santo está me levando a arrepender e a mudar em minha vida?”
Este aparente enigma serve para ilustrar a natureza menos exigente de nossa língua em comparação com a língua grega. Examinar em seu primeiro uso aqui diz respeito a Deus julgando o coração, enquanto o uso do termo grego na segunda passagem (uma palavra grega diferente), diz respeito à análise e aprovação no sentido de assumirmos responsabilidade por nossas ações em relação aos pecados que o Espírito Santo no convence. As passagens não estão dizendo coisas opostas.
Todas as três passagens corroboram então para o poder pessoal e orientador do Espírito Santo contra um conjunto rígido de padrões extrabíblicos externos que supostamente mostram para as outras pessoas que somos piedosos. Confie na ação do Espírito Santo que habita em você para guiá-lo e convencê-lo a cada momento. Esta é uma conquista da intimidade com Deus. No que diz respeito ao crescimento pessoal, o cristianismo é um relacionamento com Deus muito mais do que um bando de regras e regulamentos para executar exteriormente. Nesta mesma linha de pensamento, Paulo conclui em Gálatas 6.4:
“Cada um examine os próprios atos, e então poderá orgulhar-se de si mesmo, sem se comparar com ninguém.”
Em síntese, Gálatas fornece os meios pelo qual o servidor público pode ter intimidade com Deus e, portanto, ser eficaz.
B. À POSIÇÃO
Como afirmamos na introdução, as verdades teológicas deste livro serviram de combustível para a Reforma, dando luz ao que é comumente descrito como a ética de trabalho protestante (cf. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber). Como exatamente elas estão conectadas? Acompanhe meu raciocínio: quando um indivíduo é capacitado pelo Espírito Santo, ele anda no Espírito (5.16) e manifesta cada vez mais o fruto do Espírito, conforme listado em Gálatas 5.22-23:
“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei.”
Como resultado, ele passa a ter cada vez mais autocontrole. A promessa, o caminho para alcançar e as implicações generosas do fruto manifesto do Espírito a qualquer sociedade são enormes. Como você pode imaginar, uma cultura formada por indivíduos cheios do Espírito Santo irá moldar seu DNA de inúmeras maneiras positivas e profundas.
Exatamente como essa capacitação se manifesta? Quando o Espírito Santo reina no coração — em oposição a ser continuamente entristecido ou extinto — Ele controla e domina as ações do indivíduo (Gl 5.18), permitindo-lhe superar as inclinações de sua natureza pecaminosa predominante. Esta natureza pecaminosa, entre muitas outras manifestações, inclui a preguiça (cf. Provérbios 12.27), em contraste a uma ética de trabalho: daí a relação com a ideia de Gálatas ser o livro da Bíblia que promoveu a ética de trabalho protestante.
Diversos benefícios e manifestações adicionais de um indivíduo e consequentemente de uma cultura dominada pelo Espírito Santo são os seguintes: (1) ser guiado em toda a verdade (Jo 16.13); (2) uma consciência fortalecida e sensibilizada (Rm 2.15; contr. 1Co 8.7); (3) uma natureza ativa, vitoriosa, de superação (Jo 16.33). Estes três são apenas alguns. A questão: enormes benefícios para a sociedade são alcançados a partir da prática dessas qualidades de caráter. Que grandes coisas acontecem em uma nação quando os cidadãos e os líderes governamentais são caracterizados pelo fruto magnânimo do Espírito!
Segue-se que os líderes em quem o Espírito habita se erguem, superando os efeitos opressivos e dominadores do pecado, para influenciar, moldar e ajudar seus companheiros e seu país. Esta verdade de Gálatas é incrivelmente significativa para a prosperidade de uma nação.
O que resulta do ensino de Gálatas sobre o desígnio de Deus para um indivíduo (e uma sociedade) autogovernado equivale a não haver tanto a necessidade de um ditador quanto polícia do estado para reprimir por força externa o pecado inerente à natureza do homem. Gálatas, então, em um sentido, é sobre como governar uma nação de forma mais eficaz. Resumidamente, as implicações culturais de Gálatas são:
QUANDO OS INDIVÍDUOS SÃO HABITADOS PELO SANTO ESPÍRITO, SÃO GOVERNADOS A PARTIR DE DENTRO
Os resultados culturais comparativos que resultam da capacidade que o indivíduo tem de vitoriosamente se autogovernar são tanto generosos como magníficos: mais liberdades sociais. Mais liberdade, mais prosperidade e mais oportunidades para que todos alcancem seu pleno potencial como ser humano. Inversamente, há menos necessidade de formas externas de contenção, ou seja, de controles governamentais.
Esta aplicação cultural se reflete nas palavras resumidas de Paulo, em Gálatas 6.9-10:
“E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos. Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé.”
VII.RESUMO
Estas são as profundas implicações pessoais e profissionais quanto ao modo como Gálatas se relaciona com a autoridade governante. As verdades e bênçãos mencionadas fluem do estudo e da manifestação deste profundo livro de seis capítulos do Novo Testamento.
Como cristão designado por Deus para o cargo público, certifique-se de viver de acordo com as verdades anunciadas em Gálatas. Lembre-se das aplicações pessoais do livro: possuir o zelo de Paulo, evitar desenvolver um espírito legalista e progredir andando no Espírito.
Por último e profissionalmente, o que se segue da profundidade das verdades de Gálatas é a necessidade de defender o princípio constitucional da liberdade de religião para ao menos promover o chamado e a capacitação das igrejas a gerar, hoje e no futuro, cidadãos habitados pelo Espírito Santo. Pessoas cheias do poder de Deus que afetarão uma nação para o bem por meio de suas manifestações pessoais e múltiplas que decorrem de andar pelo Espírito, ou seja, manifestar o fruto do Espírito.
Leia esta Epístola inteira várias vezes esta semana: talvez você ainda não tenha percebido, mas nações foram grandemente moldadas pela carta de Paulo à igreja na Galácia. Então, você deve conhecer seu conteúdo de frente para trás e de trás para a frente — e viver e legislar de acordo com os preceitos profundos nela contidos.cm