Ministério Versus Ativismo Político
Download do Estudo BíblicoDesde meados dos anos 1970 os evangélicos procuram voltar para a arena política em resposta a uma América em declínio moral. O desejo sincero deles é interromper essa decadência e retornar à herança cristã. Nesta busca, talvez inadvertidamente, líderes evangélicos bem intencionados têm tentado transformar a igreja em uma organização de ativismo político.
Esta tentativa sutil de mudar o principal propósito ordenado por Deus à igreja, de ser um organismo fazedor de discípulos, transformando-a em uma máquina de votos, trouxe resultados mistos.
Quando Capitol Ministries nasceu, em 1996, um dos principais objetivos era, e ainda é, trazer clareza bíblica a essa questão. O nosso ministério sempre acreditou que é muito mais eficiente e funcional, levando em conta o bem da igreja e da nação, que ela permaneça empenhada nos seus objetivos, ordenados por Deus, de ganhar almas e fazer discípulos, gerando assim líderes políticos para o presente e para o futuro, e enviando aos gabinetes e à liderança do governo servidores maduros em Cristo. O resultado de um congressista maduro em Cristo (alguém de dentro) pode acarretar muito mais mudanças baseadas na Bíblia do que um membro de igreja, inexperiente nos meios do estado (alguém de fora), que pressiona o governo para mudar. Ao afirmar o exposto acima, esses objetivos não implicam, de modo algum, em qualquer objetivo teocrático:
A BÍBLIA É CLARA A RESPEITO DO DESEJO DE DEUS NA NOVA ALIANÇA PARA QUE HAJA SEPARAÇÃO INSTITUCIONAL ENTRE IGREJA E ESTADO, MAS ISSO NÃO IMPLICA EM SEPARAÇÃO DE INFLUÊNCIA
Formados pelos esforços de discipulado da igreja, os congressistas devem servir à instituição do estado sem olhar para a cooptação. (Eu deveria acrescentar aqui uma nota pessoal para o bem dos secularistas que tendem a presumir que os congressistas cristãos têm o desejo de transformar a América em uma teocracia. Mas em mais de 20 anos de trabalho com cristãos que ocupam cargos públicos, ainda não encontrei ninguém que tivesse essa intenção.)
I. INTRODUÇÃO
A Bíblia ensina claramente que, hoje, há uma separação institucional entre igreja e estado. Pensar de outra maneira é acreditar em uma forma teocrática ou sacerdotal de governo. O que a Bíblia não ensina – e o secularista gostaria de dizer que a Constituição dos EUA apoia – é uma separação da influência da igreja no estado. Entretanto, claramente tal pensamento não tem base na Constituição ou nas Escrituras.
O estado depende de líderes piedosos, mas não tem a função de criá-los: esse é o papel da igreja.
Quando a igreja concentra seus esforços em evangelizar e discipular os titulares de cargos públicos, aqueles que possuem uma visão de mundo cristã estão em posição de promover muitas mudanças.
Então, a ênfase do movimento histórico da direita religiosa – tentando redefinir o mandato de Deus para a igreja – é fundamentalmente equivocada e, portanto, permanecerá sempre em grande parte ineficaz. Não podemos esperar que a igreja seja uma máquina política eficaz e funcional. Mas podemos esperar que ela seja uma máquina bem lubrificada e eficiente de fazer discípulos que, por sua vez, servirão ao estado.
II. UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA
Os evangélicos ingressaram de novo na arena política incorretamente em meados dos anos 1970. Mas para começo de conversa, por que a deixaram, se seus antepassados, os puritanos, foram os próprios instrumentos, a fundação sobre a qual o estado foi concebido e implementado?
O afastamento evangélico ocorreu nos anos 1920 e 1930 em reação aos ataques críticos impostos à autoridade da Palavra de Deus, a Bíblia. Como estes assuntos estão relacionados?
No final do século XIX, os seminários protestantes conservadores dos EUA sofreram a incursão da teologia da Alta Crítica, propagada por um seminário em Tubingen, Alemanha. Teologicamente falando, a Alta Crítica alemã questionou seriamente a infalibilidade, a inerrância e a inspiração das evidências dos antigos manuscritos que compõem a base das traduções da Bíblia. Antes de Tubingen, ao longo de toda a história da igreja, a questão da integridade dos documentos-fonte das Escrituras nunca esteve sobre a mesa para debate.
Na verdade, durante a Reforma, tanto Lutero quanto Calvino, no debate com o Concílio de Trento – onde foi discutido se a salvação se dá apenas pela fé em Cristo por meio da graça de Deus ou não –, consideraram as Escrituras como precisas, confiáveis e fidedignas para todas as questões de fé e prática.
NA AMÉRICA DA DÉCADA DE 1930 TUDO ISSO MUDOU
Teologicamente falando, a Alta Crítica alemã entrou na igreja americana e muitos dos principais seminários de denominação protestante sucumbiram ao pensamento racionalista do movimento. Em essência, os propagadores do que mais tarde se tornaria conhecido como Liberalismo Teológico defendiam a crença de que Deus não inspirou toda a Escritura. Além disso, reinterpretaram a partir do texto literal das Escrituras a compreensão de Jesus Cristo e da Bíblia: o núcleo do Evangelho não era mais “o homem é pecador e necessita de Salvador”, mas Jesus havia sido reduzido a um modelo bom e humilde – alguém que retratou um bom estilo de vida – alguém que devemos imitar, mas nada mais. Jesus não era mais salvífico, no modo de pensar deles. Uma representação exata, o nome comercial do Liberalismo Teológico foi o movimento The Social Gospel [O Evangelho Social]. Esse movimento espoliou o Evangelho revelado nas Escrituras, que diz: “Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores” (Romanos 5.8).
O Evangelho das Escrituras antes da incursão do Liberalismo Teológico é intensamente pessoal, levando o pecador ao arrependimento e à necessidade desesperada de um Senhor e Salvador. Inversamente, o Evangelho Social tornou-se político, buscando respostas arrebatadoras para o aperfeiçoamento da humanidade, muitas vezes por meio de recursos baseados na política. Nos círculos teológicos, este abismo tornou-se conhecido como a Controvérsia Modernista-Fundamentalista e acabou por dividir a igreja protestante nos EUA e, eventualmente, em todo o mundo.
III. A MANIFESTAÇÃO NA ARENA POLÍTICA
Os fundamentalistas, mais tarde conhecidos como evangélicos (uma boa maneira de diferenciar é: os fundamentalistas têm no coração a tarefa de defender prioritariamente a fé, enquanto os evangélicos a de proclamar a boa nova de Cristo), se ofenderam muito com o movimento modernista do Evangelho Social porque, na época, e ainda hoje, ele procurava redefinir a obra e a pessoa de Jesus Cristo biblicamente explícita.
Respondendo à deserção de muitas das principais denominações, os fundamentalistas separaram-se dos liberais teológicos e deixaram suas igrejas, seminários, faculdades e editoras. Mais tarde construiriam outros, a fim de recriar a infraestrutura vasta com que o protestantismo americano conservador contava: o próprio motor que conduziu a cultura americana até este ponto.
Entretanto, o movimento do Evangelho Social, na sua interpretação da missão de Cristo, tornou-se, necessariamente, cada vez mais político. Tornou-se fortemente envolvido no processo político a fim de alcançar a sua percepção de missão. Então, como se pode imaginar e considerando o ponto em discussão neste estudo bíblico:
ASSIM COMO O FUNDAMENTALISMO ROMPEU COM O LIBERALISMO TEOLÓGICO, ELE TAMBÉM SE SEPAROU DA POLÍTICA AMERICANA
Este é um resultado trágico, um resultado que encerrou o envolvimento fundamental e histórico dos pastores de ensino bíblico, muitas vezes sendo os próprios homens a ocuparem cargos públicos no período formador da história americana. A influência piedosa no governo americano logo evaporou e foi substituída por uma narrativa do Evangelho Social.
IV. COMPARANDO A METODOLOGIA DO MOVIMENTO DO EVANGELHO SOCIAL COM A DIREITA RELIGIOSA
Avance por 40 anos. Teologicamente falando, a década de 1970 seria intitulada de Ressurgimento Evangélico. Em vez de citar exemplos disso, é mais importante investigar a relação entre o enorme crescimento dos evangélicos e o rápido declínio moral na nação. Estes fatores paralelos contrastantes fornecem uma percepção aguda a respeito do porquê (que seria apontado mais tarde) o movimento religioso de direita surgiu e moveu-se rapidamente de volta à arena política americana.
De volta aos anos 20 e 30, por motivos sinceros que justificavam essa ruptura pelo bem da pureza da mensagem do Evangelho, os fundamentalistas/evangélicos haviam abandonado as arenas do envolvimento político e da influência civil. Eles não estavam dispostos a misturar-se com um “cristianismo” novo e mal informado, que havia invadido seu espaço. Os propagadores do Evangelho Social invadiram a arena política por razões de necessidade missional. À medida que os teológicos liberais ganharam terreno, os teológicos conservadores o perderam.
Assim, 40 anos mais tarde, fundamentalistas/evangélicos lutavam furiosamente, dizendo que a América que conheciam estava em declínio moral e dominada pelo Liberalismo Teológico e político. O Ressurgimento Evangélico estava agora em andamento: e esperava-se que reengajar na arena política e influenciá-la “para Cristo” protegeria a nação de rápida desintegração moral.
Ao retornar à arena política, os evangélicos fizeram isso com o entendimento correto da doutrina bíblica, especialmente sobre Cristo e a salvação pessoal. Sua doutrina era bíblica, comparada à invasão do Liberalismo Teológico, 50 anos antes. O evangelho não adulterado, contido no livro de Romanos, estava no cerne do ressurgimento evangélico: estamos “… mortos em transgressões…” mas “Deus nos ressuscitou com Cristo…” (Efésios 2.5-6). Esta é a mensagem que os propagadores do Evangelho Social haviam abandonado há muito tempo.
No entanto, por mais zelosos que fossem pela reentrada da direita religiosa (que pode-se dizer, foi o braço político do Ressurgimento Evangélico), faltou um grande ingrediente bíblico necessário a qualquer esforço desejoso da bênção de Deus. Embora os fundamentalistas e os evangélicos tenham se mantido fiéis ao Evangelho, conforme definido e revelado pelas Escrituras, sua metodologia – especialmente no que diz respeito à arena política – não foi bíblica. Na verdade, a Bíblia é instrutiva em relação a ambos.
A MENSAGEM DA DIREITA RELIGIOSA ESTAVA CERTA, MAS SUA METODOLOGIA ESTAVA ERRADA
Dentre os muitos exemplos, um deles é encontrado em Filipenses, capítulo 1. Inspirado pelo Espírito Santo, Paulo está escrevendo próximo ao fim de seu ministério. Aqui é possível obter percepções maravilhosas sobre a metodologia para o ministério revelada biblicamente. Enquanto escreve, ele está fisicamente acorrentado à guarda pretoriana, os soldados da elite de César. Isto significa que se ele não está na casa de César, certamente está ao lado dela. Observe o que Paulo diz:
“Finalmente estou diante dos líderes políticos mundiais. Agora direi a eles o que deve ser mudado no império!”
Paulo não fala isso. O que aponta em Filipenses 1.18 é:
“Mas, que importa? O importante é que de qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro. De fato, continuarei a alegrar-me.”
O contexto das observações de Paulo diz respeito a outro assunto, mas a visão da nossa prioridade e da dele no ministério é agradavelmente clara:
GANHAR PESSOAS PARA CRISTO E EDIFICÁ-LAS – E NÃO MUDAR AS NAÇÕES – DEVE SER A PRIORIDADE DA IGREJA E DE CADA CRISTÃO
Essa foi claramente a prioridade de Paulo, e deve ser a nossa também:
“Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mateus 28.19-20).
Esta é A Grande Comissão! Como Paulo naquela época, o cristão e a igreja de hoje são ordenados a fazer discípulos.
“Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus…”, declara Jesus em Mateus 6.33. Afinal de contas: “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!”(2Coríntios 5.17). Se é verdade que a vida das pessoas muda para melhor quando elas vêm a Cristo, então esta não deve ser a prioridade da instituição da igreja e dos indivíduos que fazem parte dela? Mas não foi essa a prioridade da igreja durante o Ressurgimento Evangélico/movimento da direita religiosa dos anos 70. Em vez disso, a prioridade e a metodologia dos evangélicos foi tentar transformar a igreja em uma organização ativista política e mudar as leis dos Estados Unidos. Mas Deus chama sua igreja e seus seguidores para transformar corações – sabendo que “boas leis vêm de bons corações” (tradução livre de uma citação de William Penn).
V. O PONTO DE CLARIFICAÇÃO
Ao empregar metodologias mundanas para influência política, a igreja reduziu-se a nada mais do que um grupo de pressão política – enquanto deveria proclamar a libertação da transgressão e dos pecados e proclamar nova vida em Cristo, de acordo com a vontade de Deus expressa na Bíblia! Políticos ruins, corrupção e leis mal elaboradas mudam quando as pessoas passam a conhecer o Cristo Vivo. Aí reside a principal metodologia do povo de Deus. Esta é a prioridade bíblica que, em seguida, leva a evangelizar e a discipular os líderes de estado.
ENVIE UM CRISTÃO MADURO PARA A ARENA POLÍTICA E ELE, COMO ALGUÉM DE DENTRO, PROMOVERÁ MUDANÇAS MUITO MAIS EFETIVAS DO QUE ALGUÉM DE FORA
Infelizmente, por causa de uma metodologia deficiente, desde a década de 1970 a igreja tem sido menos eficaz em suas tentativas de mudar os rumos dos Estados Unidos. Ela jogou suas sementes à beira do caminho. Não é de se estranhar; em sua tentativa malfadada de transformar o seu propósito, ela errou cada vez mais o seu chamado e missão. E, ao se tornar um grupo de ação política, tem perdido grandemente sua credibilidade no processo.
VI. SUMÁRIO
A igreja precisa ser bíblica em sua mensagem e metodologia. Confundir um é trágico (a direita religiosa), mas confundir ambos é catastrófico (Liberalismo Teológico Histórico). Cristãos envolvidos na mensagem e/ou na metodologia errada tornam-se inúteis e ineficazes aos olhos de Deus.
1Timóteo 2.1-4 é um resumo apropriado deste estudo. Quando os cristãos priorizam orar evangelisticamente e evangelizar reis e aqueles que estão no governo, Deus promete: “… para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade”.
Sábio é o cristão e o titular no cargo político que acredita e se compromete com estes propósitos e prioridades biblicamente revelados.
LEVAR CONGRESSISTAS A AMADURECER EM CRISTO É O CAMINHO MAIS EFICIENTE PARA A IGREJA MUDAR A DIREÇÃO DE UMA NAÇÃO
A igreja está no seu melhor quando equipa quem está dentro da arena política para fazer as mudanças. Os cristãos maduros que ocupam cargos públicos estão em uma posição mais eficaz para causar mudanças do que os cristãos do lado de fora. Discipule os que estão na arena política hoje! Deus abençoa homens e mulheres com prioridades claras, baseadas na Palavra.cm